A tentativa frustrada de invasão da Venezuela por mercenários a serviço do imperialismo norte-americano no começo de maio levou a uma profunda crise entre os golpistas venezuelanos.
O presidente da Assembléia Nacional (AN) da Venezuela e fantoche de Donald Trump, Juan Guaidó, só recebeu apoio oficial da casa que preside, mesmo sendo de maioria opositora ao governo, depois de 15 dias da tentativa de invasão, e com ressalvas de partidos aliados, como a Ação Democrática e Primeiro Justiça. O motivo é o incômodo causado pelo envolvimento de Guaidó em uma operação que visava capturar o presidente Nicolás Maduro e levá-lo paro os EUA. O chefe do grupo mercenário envolvido na invasão, o ex-militar dos EUA Jordan Goudreau, exibiu um contrato assinado por Guaidó, o que dificultou em muito qualquer justificativa pública do que sem dúvida é um ato de traição – por ter ajudado na invasão de seu próprio país por uma força estrangeira – e de submissão ao imperialismo.
Mas o motivo mais profundo dessa crise dentro do bloco golpista é justamente a falta de apoio popular. Se Guaidó tivesse realmente algum apoio considerável do povo ele não precisaria se justificar por ser um traidor simplesmente porque não precisaria recorrer a mercenários para derrubar um presidente legítimo. O único apoio que ele tem é aquele que a imprensa burguesa vive repetindo: o “reconhecimento” dele como presidente da Venezuela por mais de 50 países.
O imperialismo norte-americano está ferindo o direito internacional não apenas no seu envolvimento na invasão do início de maio, mas principalmente pelo bloqueio naval que deu início antes disso, alegando que seus navios foram enviados para águas internacionais próximas da Venezuela apenas para ajudar na luta contra o narcotráfico. O fato é que a presença dessa força militar tem feito com que os navios de outros países que tentam levar insumos vitais para a Venezuela – que já sofre com sanções econômicas por parte do imperialismo – se sintam sob ameaça, o que tende a prejudicar novas remessas. Um dos países que não se intimidou diante da truculência dos EUA foi o Irã, tendo enviado petroleiros para a Venezuela, não sem antes protestar na Organização das Nações Unidas (ONU) contra esse tipo de ameaça.
Os receios do Irã não eram sem fundamento, pois há dois motivos recentes para temer ações terroristas por parte dos EUA: o assassinato do general Qassem Soleimani em janeiro deste ano e a interceptação pelos britânicos – um dos principais aliados dos EUA – no estreito de Gibraltar de um navio iraniano que levava petróleo para a Síria em 2019. Trata-se, então, de ameaça real contra a Venezuela e quem quer que a ajude.
O que temos hoje é um cerco militar e econômico dos EUA contra a Venezuela. A invasão de maio foi um teste para o que pode vir depois. A mesma coisa pode ser dita do bloqueio naval que ameaça de fato a Venezuela. O resultado da invasão e seu fiasco foi a perda de força da oposição golpista personificada em Juan Guaidó, que já não tem apoio popular há muito tempo. Isso faz com que a única alternativa para a derrubada de Maduro seja uma ação que o prenda e o leve para os EUA – a acusação ridícula dos EUA contra ele por tráfico de drogas e a recompensa de US$ 15 milhões pela sua prisão fazem parte desse plano. Os EUA não querem repetir o erro de 2002, quando o presidente Hugo Chávez foi derrubado por um golpe e antes que fosse retirado do país a população reagiu e derrotou os golpistas em menos de 48 horas. Isso quer dizer que se colocarem as mãos em Maduro, ele será morto ou levado imediatamente para os EUA.
A defesa incondicional da soberania da Venezuela é mais do que necessária neste momento, pois a deposição do presidente legítimo Nicolás Maduro seria um golpe duríssimo em todos aqueles que lutam contra o imperialismo.