Cultura popular

Apartheid Cultural: um modo de produção

Não há verbas e incentivos à cultura nas periferias

Por Muna

Em média, o orçamento destinado à Cultura nos 3 níveis da federação, não ultrapassa 1%. Como não há condições objetivas de conferir ou contestar esse dado, vamos admitir que seja verdade. Com uma verba tão irrisória diante de uma atividade tão importante, os burocratas das secretarias deveriam fazer do limão uma limonada, como se diz. Só que não. O dinheiro que contempla as atividades culturais oficiais, na verdade é distribuído tradicionalmente de forma a contemplar os privilegiados de sempre.

Existe uma regra não escrita ou verbalizada, segundo a qual as apresentações, shows, eventos grandes, artistas famosos – enfim, os privilegiados – ficam com dois terços da verba disponível. As oficinas culturais e as atividades eventuais, locais, ficam com um terço. Um cálculo ligeiro: considere que as oficinas são atividades pulverizadas nas Casas de Cultura, por exemplo, em São Paulo capital. Os artistas oficineiros que estão nessa ponta, são remunerados com migalhas, não importando o quanto esses trabalhadores se desdobrem para cumprir suas tarefas. O público que frequenta essas oficinas, se somados em toda a cidade, representam um número razoável. Poderia ser maior, se as condições em que se dão essas atividades possuíssem uma estrutura melhor. Agora, considere a montagem de um show público, um evento. Um grupo musical, já consagrado pela imprensa capitalista, consome apenas num item, como a instalação do som, mais verba que aquela destinada a uma dúzia de oficineiros que trabalham na periferia. Considere também que a prefeitura pode, e sempre faz parcerias com entidades privadas para edulcorar um espetáculo dessas proporções. São bancos, empresas dedicadas à beleza e que-tais. Os empresários da arte ficam com a verba de primeiro mundo e a periferia fica com o restolho. Exatamente como o já estabelecido pelas regras da economia capitalista liberal. A regra em questão, também é usada pelos governos de esquerda, sabe-se lá porque assim se chamam. As secretarias de Cultura são, em tempos bons e também nos ruins, uma máquina de repetição do que já está estabelecido pela cultura pó de arroz burguesa. Pode ser resumido assim: privilegiar os consagrados e esconder os invisíveis.

A esquerda perfumada não tem olhos para ver o papel que as oficinas de arte e cultura podem cumprir. Isso ficou demonstrado nas administrações petistas, quando várias possibilidades nessa área vieram à tona. Se enxergassem, viriam que até do ponto de vista eleitoral que ela não abandona jamais, as oficinas trariam retorno. Nas oficinas, o contato se dá corpo-a-corpo, permite ao público uma aproximação maior com quem produz cultura, dialoga com pessoas e não com um público anônimo. Expande o leque da produção entre aqueles que estão impedidos de criar. Ações assim despertam talentos.

No entanto, a lógica mercadológica impera. Impõe à cultura popular um muro de contenção, um apartheid cultural. O ímpeto criador que sempre existiu na periferia só atravessa esse muro se se submeter às regras do mercado ou se abrir mão de sua força contestadora.

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