Na última semana, Carol Dartora, eleita vereadora pelo PT em novembro, recebeu mensagens de e-mail com ameaças claramente racistas. Dartora é a primeira vereadora negra eleita na cidade de Curitiba.
O caso em questão demonstra que as eleições municipais de 2020, muito longe de terem servido para combater o bolsonarismo, apenas fortaleceram o regime político, que se desloca cada vez mais para a direita. Do início ao fim, as eleições foram uma fraude completa operada pela burguesia, justamente com o objetivo de manter os seus representantes no poder. Como elementos da fraude, citar, entre tantos outros, a clausura de barreira, as proibições contra a campanha de rua, a cassação de candidaturas e a censura na internet.
Como resultado de toda essa fraude, os partidos da direita golpista, que já comandavam a maioria dos municípios, saíram como grandes vencedores. Enquanto o PT e, principalmente, o PCdoB perderam um número considerável de prefeituras o DEM, partido da ditadura militar, odiado pela população, teve o maior crescimento nas eleições. E mais: mesmo dentre os representantes da burguesia, foram eleitos os partidos mais direitistas e os elementos mais direitistas desses partidos. O PDT e o PSB, conhecidos por sua demagogia esquerdista, apresentaram um retrocesso.
Para encobrir a fraude e para dar uma espécie de “cala a boca” para a esquerda, a burguesia usou e abusou da demagogia identitária. Isto é, para disfarçar o fato de que elegeu os piores inimigos da classe trabalhadora, a classe dominante também permitiu a vitória de alguns poucos indivíduos que estariam ligados a grupos oprimidos como os negros, as mulheres e os LGBTs. Em Curitiba, isso ficou claro: ao mesmo tempo em que os golpistas reelegeram o impopular e fascista Rafael Greca (DEM) para a prefeitura da cidade, a Câmara dos Vereadores ganhou três representantes negros.
A eleição desses vereadores negros tem sido utilizada largamente como propaganda de que a esquerda estaria avançando em alguns aspectos. Contudo, como a própria ameaça fascista à Carol Dartora deixa claro, não se pode considerar que há um avanço da esquerda: a extrema-direita fascista está tão à vontade que está ameaçando as únicas concessões que a burguesia fez à esquerda paranaense. E, nesse caso, o caráter de extrema-direita das ameaças fica ainda mais claro: dos vereadores negros eleitos pelo PT na capital paranaense, uma é a própria Carol Dartora, professora e dirigente da APP-Sindicato. O outro é Renato Freitas, advogado, baleado pela Guarda Municipal durante a campanha eleitoral em 2018 por distribuir um panfleto e perseguido pelo aparato de repressão em diversas ocasiões.
Se os aliados mais próximos do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro não saíram como grandes vencedores nessas eleições, isso se deu somente porque a burguesia não viu necessidade em impulsionar a extrema-direita. Como as eleições municipais são muito mais controladas e menos politizadas, a direita não precisou lançar mão da mesma operação de 2018, quando apoiou em peso Jair Bolsonaro para impedir que o PT vencesse as eleições. No entanto, os “pais do bolsonarismo”, os mesmos setores que apoiaram a eleição de Bolsonaro, não irão combater o fascismo, e estarão prontos para apoiar o fascismo quando julgarem necessário.
Para a esquerda, o movimento negro e para todos os oprimidos, não há qualquer saída possível por meio de um acordo com a direita golpista. É preciso derrubar nas ruas o governo Bolsonaro e organizar a autodefesa dos trabalhadores para enfrentar, nas ruas, as provocações da extrema-direita.