Em meio a um conjunto de manobras e sabotagens para buscar quebrar a mobilização que furou o bloqueio político das direções burguesas e pequeno-burguesa da esquerda e ganharam as ruas nas últimas semanas, tais setores, juntamente com os setores da direita que integram a frente ampla (agrupada no Movimento Direito Já e outros) e alas da imprensa golpista, como a Folha de S.Paulo, intensificaram a campanha para que, além de abandonarem uma efetiva luta pelo “Fora Bolsonaro” e por expulsar a direita da rua, adotando outra política, de conciliação, pressão e entendimento com o governo ilegítimo do capitão, a esquerda também abandone suas bandeiras e suas cores.
Não se trata de uma política nova, para quebrar mobilizações de caráter combativo ou revolucionário. A burguesia, e setores que acompanham sua política, adotou essa política inúmeras vezes.
Só para citar um momento importante e recente de nossa história, tal política foi adotada por ocasião da crise da ditadura nos primeiros anos da década de 1980.
Após duas décadas de ditadura militar, a revolta popular não parava de crescer e a ditadura era combatida com uma crescente mobilização operária e da juventude, que, além de suas reivindicações parciais (como a luta contra o arrocho salarial), tinha como eixo unificador a luta pelo fim da ditadura (“abaixo a ditadura”) e por eleições diretas, já!, em que o povo pudesse votar e escolher seu presidente.
A liderança nessa luta do setor mais combativo dos explorados, a classe operária, era por demais evidente. Depois da combativas greves parciais dos operários do ABC e de outras categorias operárias, em 21 de julho de 1983, os trabalhadores – organizados pela ala mais combativa do movimento pró-CUT, a Central Única dos Trabalhadores (que seria fundada em 23/8/83, sem a participação dos pelegos da ditadura e seus aliados) – organizaram a primeira greve geral desde a instalação da ditadura militar, em 1964, paralisando (de verdade) mais de três milhões de trabalhadores e com mobilizações combativas nas principais regiões do País.
Essa mobilização expressava a tendência de luta contra o regime ditatorial e expunha o caminho para realizar essa luta com uma política de enfrentamento do regime e por meio dos métodos da luta da classe operária, que se sintetizava nas palavras de ordem adotadas por essas mobilizações: “Abaixo a ditadura” e “greve geral, derruba general”. Uma política que vinha, inclusive, obrigando os governos militares a recuarem adotando medidas parciais que buscavam preservar o regime e impedir uma derrota definitiva diante das mobilizações populares, em torno da chamada abertura lenta e gradual, que envolveram a anistia política, parcial, em 1979, a reorganização partidária (1980), as eleições diretas para governador de Estado (em 1982, que foram vencidas em 10 Estados pelos partidos de oposição, incluindo SP, RJ e MG). Ainda que com inúmeras manobras e fraudes para burlar a proporcionalidade, pela primeira vez em duas décadas, o PDS (sucessor da Arena), partido da ditadura presidido pelo então senador José Sarney, mesmo tendo obtido o maior número de cadeiras na Câmara Federal, 235 no total, ficou em minoria em relação aos demais partidos que obtiveram 244, ou seja, o governo militar não tinha mais a maioria parlamentar que sempre tivera.
O regime militar agonizava, ante a crescente revolta popular, e era possível impor uma derrota aos militares e à burguesia, cujos interesses ele expressava.
Nessas condições, a mobilização pelas “diretas, já!” iniciou-se sob a liderança da esquerda e, principalmente, do recém-criado Partido dos Trabalhadores, com o principal partido de oposição, o PMDB, dividido, com toda uma ala majoritária no seu interior. Essa ala era liderada pelo governador de Minas Gerais, Tancredo Neves (e apoiada pela maioria dos 9 governadores do partido) e defendia a busca de um acordo com o regime militar para chegar a um governo civil de conciliação por meio do apoio de um candidato de consenso (papel que Tancredo se propunha a desempenhar) no Colégio Eleitoral da ditadura.
O crescente apoio à mobilização contra a ditadura e a favor das “diretas, já” levou a cúpula da oposição burguesa (governadores) a buscar o domínio do movimento, usando – inclusive – o peso do partido estatal para reduzir a influência da esquerda, buscando impedir um enfrentamento com o regime militar e direcionando o movimento para apoiar a política reacionária de Tancredo Neves. Em torno dessa política, montou-se uma verdadeira “frente ampla” que buscou conter a radicalização do movimento e, primeiro, direcioná-lo, exclusivamente, para apoiar a aprovação de uma emenda parlamentar (a emenda Dante de Oliveira) que seria votada e derrotada em 1984) e, depois, para aceitar e apoiar a eleição da chapa reacionária Tancredo-Sarney, no Colégio Eleitoral.
Para operar essa guinada reacionária, a direção burguesa da frente foi impondo, com apoio de setores da esquerda, uma série de medidas como a política de propor que o movimento ocultasse as bandeiras partidárias (abertamente contra o PT) sob o pretexto de que se tratava de um movimento “apartidário”, para facilitar a participação de setores direitistas, ligados ao regime militar, como políticos do PDS ou egressos desse, como Teotônio Villela, José Sarney e outros.
Para buscar ocultar o vermelho, cor do PT, da CUT e da esquerda que simbolizava a luta contra a ditadura de modo geral, a burguesia, com apoio da imprensa capitalista que apoiava a operação liderada pela frente burguesa em conluio com setores do regime militar, resolveu adotar o amarelo como cor oficial do movimento, uma cor tradicional de movimento reacionários e sociais democratas ao longo da história.
O resultado dessa política foi a derrota das alas mais combativas que lutavam contra o regime militar, e a formação de um governo reacionário (que após o golpe da posse do vice, devido à morte de Tancredo) impôs duros ataques aos trabalhadores e a todo o povo explorado.
Mais recentemente essa política de abaixar as bandeiras da esquerda e ocultar suas cores, foi adotada em 2013, em uma operação casada entre setores da burguesia e da esquerda pequeno-burguesa (defensora dos “atos horizontais” e “apartidários”) dando lugar ao predomínio da direita que ia dar o golpe de Estado em 2016. Os golpistas, desde 2015, passaram a adotar diretamente o amarelo como sua cor fundamental, não por coincidência uma das cores do principal partido golpista, o PSDB, de FHC e Cia.
É vidente que o amarelo é a cor da direita, dos defensores do regime militar, da conciliação com os militares e do golpe de Estado que derrubou a presidenta Dilma Rousseff etc.
A esquerda pequeno-burguesa está caindo na capitulação diante de setores que – mais uma vez – querem fazer um acordo com a direita golpista e reacionária e defendem, na atual etapa, que se proíba bandeiras e faixas da esquerda (imediatamente do PCO que se opõe a essa política) e tentado impor ao movimento a cor amarela, nas suas manifestações (ou a variação verde e amarelo).
Mais uma vez, setores ligados à Globo, ao PSDB, que se articulam na frente ampla, querem esvaziar o conteúdo político e classista dos atos, a fim de que predomine as cores da direita, ou seja, como parte da imposição da política da direita, de conciliação com Bolsonaro, de uma saída institucional para a crise, de preferência mantendo Bolsonaro no poder.
Para isso, é preciso anular a esquerda. E isso passa pelo impedimento de a esquerda levar suas bandeiras e suas cores aos atos.
Os que querem advertir e controlar Bolsonaro, dar-lhe um “cartão amarelo” diante do genocídio que o presidente ilegítimo está comandando (junto com toda a direita que governa o País) e do maior retrocesso nas condições de vida do povo brasileiro (mais de 50% de desemprego e subemprego, fome, miséria etc.), querem impedir o vermelho, a cor daqueles que querem expulsar a direita das ruas e o governo Bolsonaro e todos os golpistas do comando do País.
Por essas e muitas outras, a nossa bandeira jamais deixará de ser vermelha.