Nesses tempos, em que temos no governo federal um elemento fascista, apoiado pelos setores mais reacionários da sociedade, somos obrigados recorrentemente a voltar em temas que são característicos dos momentos mais obscuros da história. Trata-se do problema da censura.
Na segunda-feira, dia 15, o governo fascista de Bolsonaro anunciou que pediria investigação contra uma charge de Renato Aroeira relacionando o presidente com a suástica nazista. O ministro da Justiça, André Luiz Mendonça, pediu que o desenho fosse enquadrado na Lei de Segurança Nacional, da ditadura militar. Durante a semana, houve reação em massa de centenas de chargistas e artistas em apoio a Aroeira.
Está claro que existe um fechamento político do regime golpista. Não é a primeira vez que críticas ao presidente da República são tratadas com ameaças e processos.
É a censura de volta ao país, com força.
O mais interessante é a alegação. Aparentemente, Jair Bolsonaro se sentiu ofendido ao ter sua imagem relacionada ao nazismo e decidiu logo tomar uma atitude nazista e perseguir o autor da charge.
O que dizer dessa alegação além do puro cinismo? A alegação é completamente subjetiva. Bolsonaro não gostou da charge, se sentiu ofendido ou coisa que o valha. E isso o fez atacar frontalmente a liberdade de expressão.
Esse mecanismo, por mais irônico que pareça, é o mesmo alegado pela esquerda pequeno-burguesa, em especial daquela chamada identitária, para censurar os outros. Existe um verdadeiro movimento de pessoas que defendem que a ofensa deve ser punida. Que defenda que um xingamento, um palavrão ou qualquer quer coisa considerada ofensiva seja calada e que portanto a “liberdade de expressão tem limite”.
O que aconteceu com Aroeira deveria servir para que a esquerda acordasse de seu sonho cor de rosa, aquela que acredita que as instituições do Estado burguês deveriam ter poder para censurar.
A lógica é muito simples: se há limites para a liberdade de expressão e portanto existem determinados pensamentos e ideias que deveriam ser censurados, então isso vale para todos.
Na luta política entre Bolsonaro, o Ministério da Justiça, as Forças Armadas de um lado, e a esquerda de outro, advinhem quem terá mais poder para impor esses limites.
Nenhum precedente deve ser aberto para fortalecer a censura. A esquerda que defende essa ideia na realidade não está nada mais do que refletindo o momento obscuro em que vivemos. Os motivos morais podem ser diferentes, mas o sentido político é o mesmo: calar aquele do qual eu não concordo.
Por isso, a arma da esquerda sempre foi a defesa completa e irrestrita da liberdade de expressão, para que todos possam falar. O contrário, retirados os enfeites morais, só pode fortalecer os poderosos, os que realmente têm forças para calar os adversários.
Abaixo a censura!