Em entrevista publicada pelo jornal golpista Folha de S.Paulo no dia 22 de maio, o deputado federal Marcelo Freixo veio a público novamente defender a chamada frente ampla — isto é, a aliança entre organizações da esquerda e a burguesia. Durante a entrevista, o deputado declarou:
Diante dessa constatação sombria, o campo democrático precisa estar à altura do desafio e ser capaz de abrir mão dos projetos pessoais e partidários, superar as diferenças e se unir na defesa de algo maior: a vida, os direitos e a democracia, ameaçados pela dupla tragédia do fascismo e da pandemia.
Não precisamos de um grande líder para derrotar Bolsonaro. Necessitamos de um grande projeto de reconstrução nacional, que abra espaço a todas as nossas lideranças e seja capaz de superar o projeto autoritário bolsonarista.
Antes de entrar propriamente na discussão da frente ampla, é preciso situar a entrevista. No momento, Marcelo Freixo tem aparecido com frequência na imprensa burguesa e na imprensa dita progressista por ter aberto mão de sua candidatura no Rio de Janeiro. O motivo de sua desistência teria sido o fato de que não conseguiu obter uma “unidade” para a sua candidatura. Fundamentalmente, os oponentes a essa unidade seriam partidos como o PCdoB e o PSB, que possuem um vasto histórico de alianças com a direita. No momento, espera-se que esses partidos forcem um apoio a um candidato ainda mais direitista que o próprio Marcelo Freixo, propondo uma frente da esquerda com políticos como Eduardo Paes (DEM).
É nesses termos que deve ser compreendido o problema a frente ampla. Em abstrato, abrir mão de projetos pessoais pode parecer um ato nobre para contribuir com a luta contra o fascismo. A perspectiva de uma frente em que o grande objetivo seja o de se livrar de um governo inimigo do povo, admirador de torturadores, parece correta. No entanto, concretamente, não é esse o debate que está colocado.
Quando Marcelo Freixo fala em abrir mão de interesses partidários, é preciso entender que isso revela muito mais do que possíveis diferenças entre partidos. Afinal de contas, entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) há diferenças enormes, e isso se reflete em seu programa e na sua atuação. Contudo, se ambos priorizassem a luta política pela derrubada do governo Bolsonaro, seria um ganho para ambos, uma vez que há uma série de interesses em comum: ambos se dizem contra a reforma trabalhista, contra a reforma da Previdência, contra as privatizações, contra a perseguição aos movimentos sociais, a favor de algumas políticas sociais etc. Por outro lado, se o PT entrar em uma aliança com um partido como DEM, conforme poderá acontecer no Rio de Janeiro, o ganho será de apenas um lado.
Isso porque não há absolutamente interesse algum em comum entre a esquerda e a burguesia, de quem o DEM é representante. E como representante da burguesia, o DEM defende todas as pautas mencionadas acima — não só é a favor, como atuou diretamente para que elas fossem levadas adiante. Neste sentido, se o DEM estiver interessado em lutar contra o governo Bolsonaro, o que estará em jogo não é a “luta contra o fascismo”, mas sim o interesse de assumir o lugar de Bolsonaro como elemento regente do regime político. E com a direita no poder, não há vitória contra o fascismo. Haverá apenas uma reorganização do regime para que a burguesia possa atacar novamente da maneira mais dura possível os trabalhadores.