É relativamente fácil notar que determinados setores da esquerda vibraram com a prisão de Marcelo Crivella, um típico representante da direita brasileira, apoiador, dentre outros, do golpe de Estado que o País sofreu.
A prisão dele ou de qualquer outro não deveria alegrar ninguém, nem da esquerda nem uma pessoa minimamente democrática, menos ainda de organizações revolucionárias, por um motivo bem simples.
Quando uma pessoa é presa, é porque alguém mandou prender. Não foi um sistema penal justo, isento, neutro, vindo dos céus, que, depois de investigação seríssima, resolveu prender uma pessoa. É o sistema penal da burguesia que toma essas medidas.
O caso de Lula foi revelador nesse sentido. Sua prisão foi uma das maiores arbitrariedades dos últimos tempos, uma ilegalidade sem precedente no Brasil, e devolveu a justiça aos tempos da inquisição católica.
A imprensa apresenta como sendo resultado de uma investigação do Ministério Público (sempre ele…) e a Polícia Civil, e que Crivella é “suspeito de corrupção”. Crivella sai pichado por uma suspeita, e o MP sai por cima, glorificado como o que há de mais justo no Brasil.
De maneira alguma.
É preciso desconfiar dessas prisões e defender que todos possuem o direito de se defender do Estado, ainda mais quando pesam apenas suspeitas, sejam contra quem for. É um princípio democrático, que não deve ser flexibilizado só porque uns são amigos e outros, não. Todos possuem o direito de se defender, de ter um julgamento justo, do contraditório, ampla defesa, enfim.
Se existe uma oposição à política de Crivella, essa oposição precisa ir para as ruas, para as manifestações do povo, e não para os esquemas administrativos do judiciário que, como está mais que provado, atua em razão de ordens dos mais poderosos.
Por outro lado, esses métodos de inquisição, prisão por suspeita, domínio dos fatos e outras atrocidades medievais, se hoje recaem sobre Crivella, amanhã, não resta dúvidas, recairá sobre a esquerda de conjunto, como o próprio caso de Lula demonstrou.
A satisfação com o cárcere de outra pessoa só deve se dar para quem se acostumou com uma população carcerária de quase um milhão de pessoas, e está confortável com isso. Diante do problema, podia-se pensar: “quase um milhão de presos, agora é a vez de Crivella!”. Não, o correto é defender: não se deve prender ninguém por suspeita e todos os presos devem ser soltos.