A foto acima vem percorrendo as redes sociais como parte da propaganda do PSOL e mostra a então prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, com Darcy Ribeiro e Paulo Freire. Os dois últimos têm suas histórias marcadas por contribuições na área da educação. Já Erundina, ao contrário do que a foto induz, não tem contribuição alguma com este campo, tendo como grande legado a repressão aos trabalhadores, o troca-troca partidário e uma série de alianças com notórios inimigos da classe trabalhadora.
O que a propaganda (impulsionadora da foto) busca apagar é a atuação de Erundina no esmagamento da greve operária realizada pelos trabalhadores da Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), resultando na demissão de 475 motoristas e cobradores, além de abrir caminho para a privatização do transporte público na capital paulista, o que ocorreria no governo de Paulo Maluf, com a extinção da CMTC e criação da SPTrans.
Em reportagem da época, a insuspeita Folha de S.Paulo referiu-se à “melhor prefeita de São Paulo” (segundo Boulos, é claro) como “intransigente” contra os trabalhadores, antecipando ainda que Erundina iria “recorrer na Justiça contra o reajuste concedido pelo TRT.”
A perseguição da então prefeita incluiria a convocação da PM para ocupar a garagem da CMTC em Jabaquara e reprimir os operários da companhia, revoltados após 9 dias de greve sem a reposição salarial pretendida de 89,49% (a inflação oficial medida pelo IPC da época apontava 1.119,10 % entre dezembro de 1991 a dezembro de 1992).
Por fim, em plena crise da era Collor marcada pela hiperinflação e um desemprego astronômico, Erundina contratava trabalhadores desesperados para furar a greve da CMTC. Vale destacar que abril de 1992, um mês antes da greve, permaneceria até 2015 como o mês em que mais postos de trabalho foram fechados no País: 63.175.
Profundamente desmoralizada ao término de sua gestão, Erundina optou por sair do PT, partido que a elegera prefeita, para ganhar um cargo no governo de Itamar Franco (1992-1994), recém empossado Presidente da República após a queda de Collor. A burguesia buscava então construir um governo de frente popular para apaziguar as mobilizações pelo Fora Collor que tomaram o País, valendo-se para tal da própria ex-prefeita.
Pressionado pelas massas insatisfeitas com o receituário neoliberal, que dava na época seus primeiros passos no Brasil, o PT optou por fazer oposição institucional ao governo Itamar. Erundina, por sua vez, aceitou fazer o jogo da burguesia, o que levou o partido a publicar uma nota acusando a ex-prefeita de indisciplina partidária e desrespeito à decisão do partido.
“Você tem que ter cara, tem que ter lado, tem que ter oposição, não pode se misturar com os seus inimigos”
A frase acima foi proferida por Erundina em entrevista à revista burguesa Exame (“Erundina: Problema do PT foi governar com uma base de A a Z”, Exame, 26/09/2016). Na ocasião, a ex-prefeita disputava novamente as eleições municipais de São Paulo, já pelo PSOL, e como todos os oportunistas à época, cobrava do PT a necessidade de “fazer autocrítica”. Isso por que, “não é possível ter acordo entre pessoas divergentes e antagônicas nos seus interesses”.
A declaração é muito curiosa, especialmente vindo de quem traiu o partido que a fez prefeita para se misturar com Itamar Franco, indo posteriormente para o PSB, onde teve como colega ninguém menos que Márcio França, vice de Alckmin no período em que o tucano fora governador de São Paulo.
Hoje candidata a vice-prefeita na chapa do PSOL encabeçada por Guilherme Boulos, a verdade sobre o governo de Luiza Erundina é frequentemente apagada, dando lugar ao tradicional “primeira mulher prefeita da cidade de São Paulo”, entre outros elementos típicos da demagogia identitária, muito presentes na política da esquerda pequeno-burguesa.
Com um histórico marcado por traições, não é surpresa que em 2020, Erundina apresente-se em uma chapa dedicada a articular uma frente ampla, que não tem outro objetivo mas realizar ataques ainda mais severos contra os trabalhadores e o amplo conjunto da população, recorrendo para isso aos setores mais oportunistas da esquerda, de modo a confundir a classe trabalhadora.
Ainda que a propaganda se esforce para apresentar a atual filiada do PSOL como promotora de uma “Revolução Cidadã”, a classe trabalhadora deve lembrar tais fatos para compreender o papel desempenhado por Erundina hoje, em grande medida, o mesmo desde a década de 1990. Enganar e confundir os trabalhadores para abrir caminho aos piores ataques vindos de seus inimigos de morte: a burguesia.
Eufemismos vazios de uma política concreta, a demagogia identitária, todos os elementos tradicionais de uma política inescrupulosa e descompromissada com as massas trabalhadoras estão sendo explorados para esconder o real alinhamento político de Erundina, presente de maneira concreta na brutalidade com que esmagou greves. Em aliança com a burguesia na campanha golpista, repetiu a ladainha de que o governo Dilma era indefensável (“não há como defendê-lo” foram as palavras exatas). O mesmo posicionamento vale para Erundina pelos trabalhadores. Não há como defendê-la.
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