Em sua edição do dia 8 de abril, o portal Vermelho publicou um artigo de José Carlos Ruy, intitulado EUA: desistência de Bernie Sanders aponta para a unidade contra Trump, em que é feita uma avaliação da desistência de Bernie Sanders na disputa pela condição de candidato presidencial do Partido Democrata. Na análise, Ruy conclui que:
Por meses, Sanders prometeu fazer tudo o que podia para derrotar Trump na eleição de novembro; sua saída, embora não seja o que ele havia imaginado, é um reconhecimento de que continuar a disputa contra Biden impediria a unidade necessária na disputa de novembro, contra Trump. Sanders, de 78 anos de idade, disse repetidamente que apoiaria Biden se ele fosse o candidato democrata.
A concepção de que a saída de Bernie Sanders da disputa seja uma vitória, no entanto, não é minimamente correta. Sanders, que já havia se tornado uma liderança de destaque em todo o mundo após sua participação nas prévias democratas no ano de 2016, chamou a atenção por ser o primeiro pré-candidato do Partido Democrata a se considerar socialista. Embora não possamos considerar Sanders um socialista de um ponto de vista rigoroso, científico, conforme definido pela literatura marxista, o fato é que Sanders vinha representando uma fortíssima tendência dos trabalhadores norte-americanos a se chocarem com o regime político.
Bernie Sanders, indo na contramão de toda a tradicional demagogia democrata, defendia, entre outras coisas, a universalização do acesso à Saúde Pública e do acesso ao Ensino Superior. Repetia incessantemente que seus inimigos estavam em Wall Street e era apontado como radical e extremista pela imprensa capitalista. Com efeito, Sanders foi sabotado pelos membros da ala direita de seu próprio partido. Em 2016, o WikiLeaks revelou uma série de mensagens que mostravam a sabotagem em favor da pré-candidatura de Hilary Clinton. Em 2010, vários correligionários de Sanders vieram a público clamar por uma candidatura de centro.
Ao abandonar a disputa, Sanders acabou por largar todos aqueles que estão contra o governo Trump nas mãos de Joe Biden, um representante típico da política imperialista do partido democrata. Biden, inclusive, foi vice-presidente de Barack Obama, cujo governo, em muitos aspectos, teve uma política externa mais agressiva do que a de Donald Trump. Na prática, abandona-se qualquer perspectiva de os trabalhadores enfrentarem a política do imperialismo, uma vez que terão de escolher entre o fascistoide Donald Trump e o burocrata Joe Biden.
Essa é, na prática, a famosa frente ampla, defendida diariamente pelo próprio portal Vermelho. Isto é, uma política que tem como fim submeter o movimento popular, os trabalhadores e a esquerda aos interesses escusos da burguesia, sobretudo dos setores mais pró-imperialistas. Se Bernie Sanders convocasse Joe Biden para participar de sua campanha, e se essa campanha fosse baseada em um programa que defendesse os trabalhadores, já seria um gesto em direção à direita, pois os trabalhadores veriam com bastante desconfiança a aproximação de um elemento já incorporado ao regime político. No entanto, abandonar o programa social-democrata e se submeter à direção de Joe Biden é uma capitulação profunda.





