Por Henrique Áreas
“Com esses ministros, é preferível que Cultura não tenha ministério”, com essa frase, dada em entrevista ao jornal El Pais no início de 2019, Chico Buarque mostrava a indignação dos artistas diante da política que os golpistas colocavam em marcha na cultura.
Pode parecer certo pessimismo, mas a declaração de Chico Buarque guarda uma realidade sobre a direita que se a apossou do governo desde o golpe de 2016. Ela tem como único “projeto” para a cultura a sua destruição.
Quando a direita golpista se apoderou do governo, uma das primeira medidas de Michel Temer foi extinguir o Ministério da Cultura. A ação só não foi bem sucedida porque artistas e trabalhadores do setor ocuparam por um cerca de um mês as sedes da Funarte e fizeram Temer recuar.
O Ministério como órgão não foi extinto naquele momento, mas na prática, sim. As políticas para a cultura e a arte foram sendo reduzidas em todos os níveis – federal, estaduais e municipais. Verbas cortadas, projetos interrompidos, censura. Tudo isso respaldado pela ideologia da extrema-direita que ataca os artistas como “esquerdistas, parasitas estatais, doutrinadores” e tudo o que se possa imaginar. Basta lembrar que a campanha contra a Lei Rouanet foi um dos motes da direita golpista antes da derrubada de Dilma Rousseff.
Temer não conseguiu acabar de vez com o Ministério mas criou as condições para que seu sucessor o fizesse. Bolsonaro, muito mais decidido em sua ignorância e impopularidade, acabou de vez com o Minc. Criou uma secretaria de faz de conta, primeiro subordinada ao Ministério dos Direitos Humanos, controlada por Damares Alves e agora subordinada ao Ministério do Turismo.
Primeiro, pela secretaria passou Roberto Alvim. Um diretor de teatro paulista reconhecido pelos próprios colegas de profissão como um grande fracassado, seguidor de Olavo de Carvalho e defensor do “teatro sem partido”. Alvim ocupava seu tempo em atacar os artistas e a cultura. Essa era a sua tarefa como secretário da Cultura.
Mas chegou o momento em que Alvim ultrapassou um pouco os limites. Fez um vídeo copiando Goebbles, ministro da propaganda de Hitler, e acabou sendo demitido. Em seu lugar, Bolsonaro colocou Regina Duarte, a “namoradinha do Brasil”. O epíteto chegou a enganar alguns, que afirmaram que ela seria “de direita mas não seria fascista”, ledo engano.
A nova secretária de Bolsonaro cumpriu seu dever como secretária de Cultura. Manteve ativa a tarefa da pasta: atacar o setor. Alguns, erroneamente, cobravam alguma política de Regina Duarte, sem perceber que na realidade ela estava cumprindo muito bem seu papel.
O vídeo em que Regina perde as estribeiras na CNN Brasil foi a gota d’água. Defendeu a tortura, a censura e o assassinato durante a ditadura e defendeu o assassinato de agora, com as milhares de mortes pelo coronavírus. “Tudo normal”, para ela, “é preciso otimismo”.
Assim como fez Roberto Alvim, Regina Acabou cometendo o erro de expor muito claramente o que pensa o governo Bolsonaro e caiu. Mais um elemento fascista que sai desse governo fascista.
Dizem que outro “ator”, é bom não esquecer de colocar as aspas aí, vai assumir. Mário Frias deve ocupar o cargo. Diz estar preparado para defender o governo Bolsonaro, portanto deve estar preparado para cumprir a tarefa central de sua secretaria: acabar de vez com a cultura.
O caso mostra que não adianta derrubar os ministros nem os secretários. É preciso derrubar Bolsonaro e todo o regime golpista que está aí para destruir a cultura e tudo o que é patrimônio do povo brasileiro.
Chico Buarque estava certo. É mesmo melhor não ter ministro, assim o plano de destruir a cultura nacional fica mais desorganizado.