Na quarta-feira (21), Henrique Pires, nomeado secretário de Cultura do governo Bolsonaro, abandonou o cargo, embora atuasse de acordo com os interesses governamentais e trabalhasse com o intuito de pacificar os setores da Cultura. De acordo com uma nota emitida pelo Ministério da Cidadania, “o cargo foi pedido pelo ministro Osmar Terra na terça-feira (20), à noite, por entender que ele não estava desempenhando as políticas propostas pela pasta”.
Entre estas políticas está a censura à produção de séries com temática LGBT para emissoras de televisão públicas. Em entrevista concedida à revista EXAME, Henrique Pires enfatizou que não vai “chancelar a censura” no governo Bolsonaro. “Depois que o Supremo Tribunal Federal decidiu que crime de homofobia é igual ao crime de racismo, é inadmissível o governo usar critérios homofóbicos para decidir quem vai receber ou deixar de receber recursos públicos”, afirmou.
Contudo, essa censura no governo Bolsonaro não causa nenhum espanto, uma vez, que Bolsonaro já declarou inúmeras vezes a sua homofobia. A crise em seu governo, que tem como marca a perseguição à esquerda, aos movimentos democráticos e à produção cultural em geral, pode ser notada em várias atitudes tomadas por ele ao longo destes oito meses de governo referentes à censura.
No mês de abril, Bolsonaro proibiu a veiculação de uma propaganda do Banco do Brasil que contava com atrizes e atores negros, pessoas tatuadas e homens de cabelos compridos, o que ocasionou, na época, a demissão do diretor de Comunicação e Marketing do banco.
Nos últimos dois meses, afirmando que não iria admitir “peças ditas culturais que vão contra os interesses e nossa tradição judaico-cristã”, Bolsonaro atacou a Agência Nacional de Cinema (Ancine) ao fazer uma referência ao filme Bruna Surfistinha e afirmar que não permitiria que dinheiro público fosse utilizado para fazer filme pornô. “Ele estava fazendo referência à minha história de vida, sendo que ele não tem moral nenhuma para falar nem da minha vida, nem da vida de ninguém”, afirma Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha, em entrevista à Folha de S. Paulo.
Sem moral e sem noção, Bolsonaro cria a cada dia uma nova crise em seu governo. Em meio à crise amazônica, a pesquisa CNT/MDA divulgada segunda-feira (26) evidencia a perda da popularidade do governo em apenas oito meses. A avaliação negativa beira os 40% e a avaliação positiva caiu de 38,9% para 29,4%.





