Com a recente morte do ex-jogador Antônio Wilson Vieira Honório, vulgo Coutinho, a imprensa golpista foi obrigada a colocar em pauta as lembranças do futebol arte que representa a história desse fabuloso jogador de futebol, e suspender por alguns dias a exaltação do tedioso “futebol moderno”.
Para entender a diferença do futebol arte, moleque, que só o Brasil possui, que está sendo substituído no país pelo futebol brucutu, defensivo, sem criatividade, por pressão dos interesses dos grandes capitalistas nacional e internacional que atualmente controlam esse esporte, é necessário conhecer e admirar a carreira futebolística desse craque da bola, Coutinho e sua parceria nas quatro linhas com o maior de todos os tempos, o rei Pelé.
Em primeiro lugar, é necessário dizer que com todo o futebol que Coutinho possuía, se ele tivesse nascido nos dias atuais, jamais seria jogador profissional, pois seu apelido, Coutinho, tem origem familiar, pois seus pais o chamavam de Cotinho, referente a coto, por ser pequeno para sua idade, e como sabemos, o tal futebol moderno despreza os jogadores franzinos e de estatura baixa, valorizam somente jogadores grandes e musculosos, os “robozões”.
Coutinho saiu de Piracicaba com 14 anos de idade, interior de São Paulo para jogar no profissional do Santos de Pelé, já era conhecido pelo apelido de Cotinho, que apenas se desenvolveu para Coutinho.
Em seu primeiro treino no Santos, seu futebol “moleque” “ousado” chamou a atenção do zagueiro que o marcou, que de tanto correr atrás do menino, após o treino, chegou perto do técnico, o famoso Lula, e cochichou em seu ouvido, “segura o macaco, que ele vai dar jogador de futebol”.
Contratado pelo Santos com 14 anos de idade, teve a sorte de logo se tornar titular do melhor ataque do Santos de todos os tempos, com Dorval, Mengálvio, Pelé e Pepe, devido a contusão do grande jogador da época, o centroavante Pagão, que depois acabou sendo vendido para o São Paulo futebol clube.
Nesse ataque dos sonhos, Coutinho era o mais novo, e também, segundo os seus parceiros de ataque, o mais inteligente dentro da área, especialista naquele espaço, ou como dizia João Saldanha, o craque da zona do agrião.
Pelé, por diversas vezes declarou que Coutinho sabia finalizar a gol como poucos, sua frieza e categoria tornava seu arremate a gol indefensável ao goleiro, na sua maioria bolas com pouca velocidade mas colocadas fora do alcance do arqueiro. “Coutinho, dentro da área, era melhor que eu, sua frieza era algo sobrenatural” dizia o rei Pelé.
Para isso, é obvio, Coutinho dominava todos os fundamentos de base, chutava com o pé direito e esquerdo, com grande impulsão, cabeceava a bola sempre de olhos abertos deslocando a bola do goleiro, encontrava sempre o lugar vazio dentro da área, aonde a bola teimosamente acabava o procurando.
Com essas qualidades, Coutinho, em 10 anos de Santos (1958 a 1968) fez 368 gols de 457 partidas disputadas, mas apesar de ter feitos vários gols de placa, Coutinho não ficou famoso por seus gols, mas pela inteligência com que jogava nesse ataque dos sonhos, pois foi “garçom” para com seus companheiros de ataque, servia a bola com açúcar para que Pelé, Pepe, Dorval e outros pudessem fazer com tranquilidade o arremate final.
O rei Pelé chegou a dizer, sem modéstia, em um programa do Jô Soares, na rede Globo, que dos 1281 que marcou em sua carreira, 500 gols era culpa do Coutinho, uma parceria no futebol que jamais será esquecida, imortalizada na jogada de futebol conhecida pela tabelinha “um , dois”, com os pés e até com a cabeça.
No time do Santos, que Coutinho era protagonista, que conquistou 22 títulos, sendo dois mundiais, e excursionava pela Europa para dar show, não havia dois volantes, zagueiro que comemorava um desarme, linha de quatro, linha de cinco, transição do ataque para defesa, treinamento exaustivo de bola parada etc, etc (modalidades do futebol moderno).
Esse time era o maior porque tinha jogadores do quilate do Coutinho, que sabia agradar a bola, e que sabia como ninguém colocá-la para dormir no fundo das redes, lugar onde ela mais quer estar.
Certa feita, perguntaram para o Coutinho, porque o time do Santos de sua época fazia tantos gols, e ele respondeu: “porque gostamos de fazer gols, quando marcavamos um gol no jogo, queriamos fazer mais, não recuávamos para segurar o resultado”, como acontece hoje, que todo mundo vai para dentro do gol, para impedir que aconteça futebol, só falta descer o presidente do time para fechar o gol também. Coutinho dizia: “o futebol atual está sem graça, quando ligo a televisão para ver futebol, fico com vontade de mudar de canal e ir assistir desenho”.
Para entender melhor o que foi o melhor ataque de futebol de todos os tempos, realizado pelo time dos Santos de Coutinho e Pelé, terminamos com a descrição de um gol do Santos narrado pelo rádio da época : “Bola com Mauro, ele toca para Zito, que faz a finta, deixa com Calvet, rola para Mengálvio, passa por um, olha para o canto, aparece Coutinho que recebe sob marcação, mas se livra do primeiro, finta o segundo, passa para Pepe, que dribla o zagueiro, ameaça chutar, enfia no meio da área para Pelé, chapelou um, chapelou dois, fuzilou!! Goooool! Golaço do Santos!!! Um gol de placa aqui na Vila Belmiro!!!”




