O parlamentarista Reino Unido vai promover sua terceira eleição desde 2015, embora a previsão de eleições seja a cada 5 anos. No entanto, o Brexit aprofundou uma crise política e econômica que parece estar longe de ser controlada.
Na eleição dessa quinta-feira, dia 12 de dezembro, ingleses, escoceses, e irlandeses vão escolher os 650 membros do parlamento (na realidade, para a House of Commons, correspondente a nossa Câmara dos Deputados).
Até a dissolução do Parlamento em 06 de novembro deste ano, a Casa dos Comuns estava assim composta:
Partido | Cadeiras | Tendência |
Conservador | 298 | Direita* |
Trabalhista | 243 | Esquerda |
Nacional Escocês (SNP) | 35 | Centro-Esquerda |
Independentes | 23 | – |
Liberal Democrata (LibDems) | 21 | Centro |
Unionista Democrata (DUP) | 10 | Direita |
Sinn Féin | 7 | Direita |
O Grupo Independente pela Mudança | 5 | Centro |
Plaid Cymru | 4 | Centro-Esquerda |
Partido Verde | 1 | esquerda |
SPK (Speaker)** | 1 | – |
Vago | 2 | – |
Total | 650 | |
*atualmente sob comando da ala mais radical
**é a designação para o Presidente da Câmara |
A Rainha é quem escolhe o Primeiro-Ministro que, por sua vez, deverá ser apoiado pelo novo Parlamento.
Boris Johnson, atual Primeiro-Ministro, é da ala de extrema-direita do partido Conservador e um entusiasta da saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit). Assumiu a liderança do partido após a saída, em maio de 2019, de Theresa May, então Primeira-Ministra, uma vez que fracassou sua última tentativa de aprovar no Parlamento sua própria versão do Brexit.
Boris Johnson e Jeremy Hunt competiram pela liderança do Partido Conservador, mas Johnson ganhou apoio dos extremistas do partido e dos defensores mais entusiastas do Brexit.
Apesar de seu jeito extravagante e posições radicais quanto a temas sensíveis, é um político com boa avaliação (em sua passagem como prefeito de Londres) e que acabou por, nas últimas eleições, capturar os votos dos partidos de extrema-direita.
Ao mesmo tempo, os Trabalhistas estão internamente divididos e a figura de Jeremy Bernard Corbyn continua controversa. Com a questão do Brexit na pauta, o fato de não ser claro sobre sua posição tem sido usada pelos adversários, inclusive internos, para atacá-lo.
Os Trabalhistas perderam eleições municipais importantes em 2017 e agora trabalham para retomar sua influência em locais que sempre foram reduto do partido (como Middlesbrough South e East Cleveland).
A eleição está altamente polarizada, segundo pode-se concluir das pesquisas e dos discursos dos principais candidatos. Os partidos de extrema-direita tendem a não eleger ninguém ou conquistar muito poucas cadeiras, uma vez que os Conservadores, via Boris Johnson parecem ter capturado seus eleitores. Isso acontece, porque quem está liderando o Partido Conservador é exatamente sua tendência de extrema-direita.
Por outro lado, é o discurso mais radical da esquerda que captura os votos da esquerda, motivo pelo qual Corbyn, da ala mais à esquerda do Trabalhismo, ainda consegue ser aquele que atrai grande parte desses votos. Dessa forma, o centro também se esvazia. Os únicos que, nesse contexto polarizado, parece conseguir manter sua tendência de votos são os partidos nacionalistas (Irlandês e Escocês).
Ou seja, à medida em que a radicalização aumenta, os extremos crescem e o centro murcha. Embora os dois maiores partidos sejam tradicionais, são suas alas internas mais radicais as que dirigem a captação dos votos, confirmando que será a polarização que vai determinar o resultado dessas eleições.
Boris Johnson tem, aparentemente, atuado melhor, pois é um extremista legitimo e conhecido como tal. Soube bem usar a questão do Brexit em seu favor, colocando-se claramente favorável à saída do Reino Unido da União Europeia.
Jeremy Corbyn, por sua vez, embora sabidamente parte de uma ala do trabalhismo favorável ao Brexit, se mostra dúbio na campanha e é atacado por isso. Com um discurso radical sobre questões sociais e mudanças econômicas em favor da população, dos trabalhadores, contra o grande capital, é caricaturado como inconsistente.
A imprensa britânica tem se colocado, como em qualquer lugar do mundo, favorável aos Conservadores e atua para demonizar/ridicularizar o líder trabalhista.(1)
Mais uma vez, o que fica claro é que a esquerda, num contexto claro de polarização, não consegue se apresentar como a representante legítima do povo, inclusive no que diz respeito ao Brexit, tem vacilado e aberto o flanco para a vitória dos conservadores.
Sequer consegue fazer a denúncia do papel que a imprensa burguesa tem exercido para direcionar o voto útil para a extrema-direita, fazendo uma campanha ‘conservadora’ e mantendo um discurso suave quando comparado ao que tem feito, por exemplo, Boris Johnson.
Embora não esteja clara a tendência de que os Conservadores saiam vencedores, é importante aprender que, a essa altura, os Trabalhistas poderiam ter assegurado uma maior vantagem se abandonassem a postura conciliatória e não tivessem medo de assumir mais claramente um lado, o do povo, mesmo em algo controverso como o Brexit – Respeitar o resultado do referendo é o mínimo que poderiam fazer.
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NOTA:
(1) Alem de inconsistente e dúbio, por causa do Brexit, a imprensa burguesa tem insistido em marca-lo como antissemita, por causa de sua postura pró-palestina.