A aproximação das eleições municipais de 2020 coloca no centro do debate um conjunto de considerações a serem feitas acerca do caráter político e social do pleito que será realizado em outubro próximo, particularmente no que diz repeito ao posicionamento que a esquerda deverá adotar e com qual programa os partidos que se reivindicam como representantes dos trabalhadores devem comparecer às eleições.
Antes de qualquer consideração sobre a questão de mérito, o próprio caráter das eleições e seus desdobramentos, é necessário deixar claro que o pleito eleitoral do próximo ano se realizará sob o signo e a marca do golpismo, da ilegitimidade do atual governo e da mais completa violação e afronta ao ordenamento jurídico nacional, onde a “justiça” eleitoral atuou descaradamente para favorecer as candidaturas da direita e da extrema direita.
Esta situação permitiu e possibilitou a mais escancarada manipulação e fraude eleitoral nas eleições não só presidenciais de 2018 – com a “vitória” da extrema direita – como a própria última eleição municipal realizada em 2016, já com os golpistas no comando da máquina pública, incluindo aí, obviamente, o judiciário, ator principal em toda a conspiração golpista que depôs, de forma arbitrária e inconstitucional, o governo eleito pelo voto popular em 2014.
Diante desta situação, onde a manipulação, a fraude e a demagogia típica da extrema direita e da burguesia golpista estarão mais uma vez presentes, não cabe à esquerda e suas representações políticas entrarem na disputa para concorrer com a máquina gigantesca dos partidos representantes do grande capital, defendendo (como muitas vezes ocorreu) uma política “realista e de realizações”, como se o que estivesse em jogo fosse uma questão de competência administrativa entre os que sabem melhor resolver e administrar os problemas do dia a dia dos municípios; sobre quem é mais capacitado para fazer uma administração voltada para os interesses da cidade, de todos os cidadãos e outras infantilidades e baboseiras do gênero.
A única possibilidade real e que pode uma perspectiva concreta de vitória, é a esquerda se impor diante das manobras da burguesia e seus partidos, apresentando e defendendo, para o conjunto da classe trabalhadora e as massas populares, um programa que coloque na ordem dia a luta contra o governo Bolsonaro, contra os golpistas, contra a burguesia, contra o imperialismo. Este programa deve levantar, sem tergiversações e meias palavras, as reivindicações mais sentidas dos explorados, a luta em defesa do salário mínimo vital, que não pode ser menor do que o necessário para o sustento de uma família composta por dois adultos e duas crianças, tendo como referência o atual salário mínimo reivindicado pelas organizações operárias e populares (referência DIEESE).
Para enfrentar a infernal máquina de guerra colocada pelos partidos burgueses e seus candidatos contra os trabalhadores e a juventude da periferia das grandes cidades, é necessário levantar, mesmo nas eleições municipais, a luta pela dissolução da Polícia Militar e todo o aparato de repressão montado pelo regime de opressão, que está orientado não para oferecer qualquer segurança à população, mas para assassinar trabalhadores, jovens e negros. Para fazer frente ao descalabro social provocado pelo flagelo do desemprego, é necessário levantar a palavra de ordem de redução da jornada de trabalho para 35 horas semanais, sem redução de salarial. Também a escala móvel de salários, como forma eficaz de impedir a corrosão dos salários, motivado pela alta inflacionária, se impõe como uma reivindicação vital dos trabalhadores.
No entanto, a plataforma principal, a bandeira de luta mais importante a ser erguida nas próximas eleições e que diz respeito aos interesses imediatos do país, dos trabalhadores e das massas populares é a luta pelo “FORA BOLSONARO”; a luta para colocar para fora o governo que vem realizando a maior obra de destruição, o governo símbolo do maior desastre e da maior tragédia social, política e econômica que vem sendo vivenciada pelo país, sem paralelo em sua história recente.
Este programa somente poderá ser vitorioso se for a expressão da mobilização e da luta das massas populares, dos trabalhadores, das mulheres, dos negros, da juventude, dos sem terra, dos indígenas; enfim, da imensa maioria da nação, esmagada em seu cotidiano pela política dos banqueiros, dos capitalistas, da burguesia, da extrema direita fascista e do imperialismo. Desta forma, é necessário fazer das eleições o momento por excelência de um grande trabalho de agitação, propaganda e defesa em torno a um programa que oriente a luta dos explorados pela derrubada do regime burguês opressor e a convocação de novas eleições gerais; pela anulação de todos os processos contra o ex-presidente Lula e principalmente pelo “FORA BOLSONARO”.