Por Juliano Simonard
Trotsky nos ensina que a crise do regime capitalista leva inevitavelmente à polarização política. Por essência, essa polarização política é a expressão do acirramento da luta de classes. A pequena-burguesia, nisso tudo, migra à esquerda ou à direita, esvaziando o chamado “centro”, que são os partidos tradicionais do regime burguês.
Tanto na França como na Alemanha, por exemplo, a crise política dos anos 30, oriunda da recessão econômica de 1929, levou ao desenvolvimento das forças políticas localizadas nas extremidades do espectro político. De um lado, o crescimento dos grupos fascistas, do outro, o crescimento dos partidos comunistas e socialistas, que apesar dos diversos erros cometidos ainda eram os partidos com os quais a classe operária europeia ainda experimentava.
No Brasil, a situação atual é parecida. Partidos tradicionais do regime político burguês, como o PSDB, o PMDB e o chamado “centrão”, estão se esvaziando totalmente, rumo à falência. Os setores de direita da pequena-burguesia se deslocaram para o bolsonarismo e atuam em conjunto com os grupos fascistas – como foi perceptível com o golpe de estado, em que a burguesia mobilizou estes grupos para levar adiante o impeachment fraudulento de Dilma Rousseff.
Já do ponto de vista da esquerda, o PT representa um fenômeno interessante. O partido é a junção entre setores da pequena-burguesia e representantes reformistas da classe operária. Então por um lado, o partido representou, nos momentos de estabilidade, as esperanças da pequena-burguesia de melhorar suas condições de vida de forma progressiva e pacífica. Ao passo que, com a crise política e econômica, setores desta classe social, que votaram no PT em eleições anteriores, foram cooptados pelos fascistas e migraram para o lado do bolsonarismo.
Por outro lado, é perceptível que o partido também acabou ganhando apoio popular durante o processo golpista. Isso porque a presença dos setores da classe operária fez com que o partido fosse colocado na incompatibilidade com o golpe de estado. Fato esse que explica o crescimento, não do partido de forma geral, mas do lulismo, que ainda lidera politicamente a maioria da classe operária brasileira.
A intenção da maioria dos brasileiros de votar em Lula e a intensa mobilização política contra sua prisão e, em seguida, pela sua libertação, revela que a burguesia ainda não conseguiu destruir o lulismo, que cresce na medida em que a polarização política ainda não ultrapassou sua limitação política. Lula está sendo colocado pela própria situação como o oposto ao golpe de estado e aos golpistas, e por isso foi preso.
Também, junto a isso, muitos setores migraram para posicionamentos mais radicais. Tanto setores da classe operária como os grupos de esquerda da pequena-burguesia começaram a apoiar uma luta de enfrentamento efetivo à direita, ao golpe de estado, à burguesia e ao fascismo. E por isso também o Partido da Causa Operária tem sido o partido que, proporcionalmente, mais cresce na esquerda brasileira; pois tem sido procurado por aqueles que querem mobilizar contra os golpistas.
De um partido pequeno e sem muita influência, o partido revolucionário se tornou, em um período que vai desde 2011 até os dias atuais, em um partido com grande influência nas bases e com uma importância primordial na liderança da luta contra o golpe. Os atos nacionais convocados pelo partido, a moral adquirida com os outros grupos políticos, a movimentação política interna dos partidos e a expansão do partido nas mais diversas regiões do país expressam esse fenômeno.
Com isso, fica evidente um fator fundamental para entender a situação política: não há mais volta para o regime de aparências democráticas da burguesia. A tendência geral é o desenvolvimento da polarização política – o enfrentamento direto entre o proletariado e o fascismo, na medida em se desenvolve o partido revolucionário e cresce a extrema-direita bolsonarista. A decadência do capitalismo corroeu todas as bases do regime de tipo parlamentar para implantar um regime de cunho ditatorial.
As arbitrariedades do regime golpista revelam que o pacto democrático de 1988 foi totalmente rasgado. E com isso, a edificação de um novo regime político depende da correlação de forças entre as classes sociais. Assim, se as organizações de luta dos trabalhadores não forem vitoriosas, irá prevalecer a extrema-direita. E então, é preciso unificar e fortalecer a luta contra o golpe para barrar o avanço da extrema-direita e libertar Lula.
É nesse sentido que o Partido da Causa Operária estará realizando sua 43ª Universidade de Férias, com tema Fascimo: o que é e como combatê-lo, baseado em uma obra de Leon Trotsky, com o mesmo nome. O intuito é armar os militantes teoricamente para orientá-los no caminho da luta contra o fascismo.
O curso vai explicar de maneira científica, isto é, do ponto de vista da luta de classes e do marxismo, o que é o fascismo, como ele surge, o que ele representa e suas características. E como toda ciência não pode ser desvinculada da prática, o objetivo será compreender o fenômeno para saber como enfrentá-lo e derrotá-lo. Um curso realizado por aqueles que participam cotidianamente da luta política contra os fascistas e os golpistas. Uma oportunidade única de formação política, de importância elementar para atual conjuntura do país.