Henrique Áreas
Não é surpresa que o retorno de Neymar à Seleção Brasileira fosse acompanhado por nova carga de ataques contra o principal jogador do Brasil. Comemorando sua 100ª partida pelo escrete canarinho no jogo de quinta-feira (10) contra Senegal, que terminou empatado em 1 a 1, em Cingapura, o atacante brasileiro voltou a ser alvo da imprensa golpista brasileira.
O conteúdo do ataque contra o brasileiro é muito significativo pois coloca às claras que há uma campanha sistemática e articulada contra ele. Para quem ainda nutria – ou nutre – alguma dúvida sobre tal campanha – que este Diário vem denunciando há muito tempo – uma análise do comportamento da imprensa capitalista nas últimas notícias sobre Neymar e a Seleção é bastante esclarecedora.
Vamos aos fatos.
Neymar concedeu entrevista coletiva na véspera do jogo contra o Senegal. Até aí, tudo poderia ser normal, mas não foi. As manchetes procuraram mostrar um Neymar arrogante por ter dito que é normal que um jogador decisivo como ele deveria ter “privilégios”. O “privilégio” é o simples fato de que Tite convocou o jogador como titular mesmo após os meses de lesão em que esteve fora da Seleção.
A própria entrevista já demonstra o viés que buscava a imprensa golpista. Perguntas que procuram deixar o entrevistado acuado ou na “saia justa”, ou mesmo, para os menos experientes na arte da manipulação da imprensa, ser levado a responder uma coisa que não era o que o entrevistado queria mas o que o entrevistador procura. Foi exatamente esse o caso. As perguntas procuravam tirar de Neymar respostas que gerassem posteriormente manchetes polêmicas mostrando o jogador arrogante e procurando com isso gerar intriga dentro do próprio elenco da Seleção. Foi o que houve. Veja algumas das manchetes da imprensa golpista:
“Neymar é desonesto com colegas ao dizer que carrega seleção nas costas”(R7, 10/10/19); “Neymar diz que já carregou seleção nas costas e defende privilégios” (Folha de S. Paulo, 9/10/10)
Como é possível notar, há um padrão de manchete, típico do cartel da imprensa, sempre que ele quer colocar em marcha uma campanha política direcionada.
A resposta de Neymar na entrevista mostra a distorção proposital para a produção dessas manchetes: “Estou na seleção há dez anos. Sempre fui um dos principais nomes e um dos que carregava tudo nas costas. Nunca fugi disso. Sempre desempenhei meu papel muito bem na seleção“, o jogador apenas está afirmando que procurou arcar com as responsabilidades por ser o principal nome da Seleção, coisa que até mesmo os que agora o criticam, já o cobraram em outras ocasiões. E foi esse o sentido geral da entrevista.
Sobre as acusações de que Tite estaria privilegiando o atleta, nada mais falso, e uma nova distorção. Os “privilégios” apontados pela imprensa são o simples fato de Neymar ter sido convocado como titular depois de meses lesionado. Qualquer um que acompanha o futebol sabe que um jogador titular em qualquer time, ainda mais se tratando de um dos principais jogadores do elenco, retorna naturalmente ao time quando se recupera. Segundo a imprensa golpista e os detratores de Tite, apenas ele deveria fazer o contrário no caso de Neymar. Fica claro que a crítica aparece apenas como uma intriga contra os jogadores da Seleção em geral e o técnico.
Só mesmo uma criança poderia pensar que a imprensa capitalista é neutra. É o “Partido da Imprensa Golpista”, termo muito bem difundido pelos jornalistas independentes. Mas esse partidarismo da imprensa não se dá apenas no terreno estritamente político, seria muita ingenuidade acreditar em algo desse tipo. Em todas as esferas, a imprensa cumpre seu papel de propagandista ideológica, a serviço de poderosos interesses econômicos que pesam muito mais do que opiniões e posicionamentos políticos pontuais.
Deveria ser óbvio que o apanhado de matérias, notícias e colunas apresentando Neymar, Tite, a Seleção e o próprio futebol brasileiro com um ponto de vista unificado faz parte de uma campanha articulada pelo PIG. Nesse sentido, o menos importante, para não dizer completamente irrelevante, é a posição política de indivíduos. O que Neymar pensa sobre Bolsonaro e a política nacional só serve para confundir o problema político geral. Tanto que a rede Record bolsonarista e os órgãos ligados a ela como o R7 é um dos principais expoentes nos ataques contra o jogador e a Seleção.
Para a esquerda pequeno-burguesa, que cai sistematicamente na campanha da imprensa pró-imperialista, é preciso fazer uma advertência: analisar um problema político geral a partir de um posicionamento de um ou vários indivíduos é não apenas um erro, é também anticientífico e anti-marxista. E não deu outra, o presidente do Psol, Juliano Medeiros, acostumado, ele e seu partido, a seguir caninamente as campanhas da imprensa de direita, fez um tuíte para criticar o jogador: “O desrespeito desse bolsonarista mimado não tem limites”, afirmou ele, fazendo coro com a campanha e toda a manipulação da imprensa golpista, conforme mostramos acima.
Diante de tudo o que foi exposto, temos duas hipóteses diante da campanha da imprensa. A primeira: deveríamos crer que a imprensa capitalista, que em todas as esferas da vida social obedece aos interesses econômicos mais poderosos, está correta apenas no caso específico de Neymar e da Seleção. Ou seja, pela primeira vez e talvez única vez a imprensa capitalista está em contradição absoluta com os interesses econômicos da burguesia. A segunda hipótese é que existe uma força econômica poderosa que visa, usando a imprensa capitalista como instrumento de propaganda, colocar em marcha um ataque contra o futebol brasileiro e o próprio Neymar.
A não ser que sejamos crianças, é óbvio que só podemos chegar à segunda conclusão.
O que está em jogo é uma campanha articulada contra Neymar. Mas o alvo principal não é o craque brasileiro, mas o futebol brasileiro como um todo. Ataca-se Neymar e Tite para desestabilizar a Seleção. Não iremos repetir aqui todos os motivos que o imperialismo tem em atacar o futebol brasileiro. Mas de um ponto de vista geral apenas vamos dizer que o futebol é um bilionário negócio e os principais monopólios imperialistas não podem suportar que um país atrasado como o Brasil tenha qualquer domínio nesse esporte. Por isso, é preciso intervir, manipular, dividir e controlar.