A crise que toma conta de vários países da América Latina coloca uma questão central para o desenvolvimento da luta de classes no Continente. Alguns casos, como o da Bolívia e o do Chile, deixam claro o impasse que existe na situação política.
Na Bolívia, um golpe de Estado tirado da cartola da direita pró-imperialista, em pouco tempo derrubou e exilou Evo Morales, colocou uma golpista no poder e reprime agora a reação do povo. Essa reação não é pequena. A população enfrenta os golpistas nas ruas e tem inclusive condições de derrotá-los.
No Chile, enormes manifestações de rua já completam um mês. A população não saiu das ruas, mesmo diante das manobras do governo que procurou apresentar medidas parciais, não recuou diante da repressão, não aceitou o acordão entre a direita e a esquerda institucional para uma constituinte. Nada disso até agora foi capaz de conter as mobilizações.
A tendência de luta da população é nítida tanto na Bolívia como Chile e também nos demais países. O povo parece disposto a derrubar os governos golpistas e todo o regime político.
A direita, por sua vez, não parece disposta a ceder. O comportamento dos governos de direita no Equador, no Chile e na Bolívia mostra que, embora ela possa manobrar diante da situação, ela não irá ceder espaço para o povo. Não irá devolver o governo para a esquerda depois de todo o processo golpista necessário para derrubar os governos nacionalistas.
Nesse quadro está a política da esquerda pequeno-burguesa. Na Bolívia, o MAS, partido de Evo, recuou em todas as oportunidades, dando espaço para a direita. Embora o povo queira enfrentar a direita, o partido nacionalista se recusa a chamar o povo para as ruas com a orientação clara de derrotar os golpistas.
No Chile, a esquerda sequer está participando ativamente das manifestações. O principal partido da esquerda chilena, o Partido Socialista, entrou no acordo com Piñera para a Constituinte fajuta, controlada pela direita. Desse modo, se coloca frontalmente contra a mobilização e perde totalmente a autoridade diante das massas, que não aceitam manobras e uma política parcial, mas exigem o Fora Piñera.
Enquanto isso, a repressão do governo só aumenta. O mesmo ocorre na Bolívia. No Chile, até mesmo pessoas já começam ser sequestradas pela direita e há centenas de denúncias de abusos.
Sem uma orientação decidida, ou seja, sem uma organização que oriente o povo para uma política de poder, que já está na boca dos manifestantes, as manifestações tendem a refluir.
O ponto central é saber se a derrota dessa mobilização, que é claramente uma situação que caminha para ser revolucionária, será derrotada pela direita. Essa derrota pode significar um maior fechamento do regime político, o que será um desastre para o povo.
No momento há um impasse no desenvolvimento da situação. É preciso analisar de perto, passo a passo, os acontecimentos políticos nesses países e em todo o continente. Mas fato é que tudo caminha para um enorme enfrentamento entre as massas e a direita pró-imperialista.





