O bolsonarismo é a versão mais completa e despudorada do fascismo

Recente entrevista com o historiador português Manuel Loff, reproduzida pelo site Opera Mundi, sobre a relação entre o bolsonarismo e o fascismo no século XXI expressa, em boa medida, a confusa interpretação que a esquerda pequeno-burguesa faz sobre o real significado da ameaça fascista representada pelo golpe de Estado no Brasil e que tem a sua expressão, no momento, no governo Bolsonaro e no chamado bolsonarismo.

Uma primeira questão que aparece nas entrelinhas da entrevista é a ideia de que teria havido uma adaptação dos movimentos fascistas aos regimes de tipo democráticos. Segundo Loff, “isso é próprio de um Estado em transição para o autoritarismo que pode ou não reunir todas as características clássicas do fascismo. Mas isso é como a democracia, eu pergunto: os Estados em que nós vivemos são puramente democráticos? O Estado português é puramente democrático? Eu tenho muitas dúvidas em relação a isso. Quando falamos de regimes fascistas e regimes democráticos, falamos de processos de construção permanente da democracia e também do fascismo. A transição autoritária começa quando se degrada a democracia. E quando é que termina? Termina quando já não há democracia. Falta agora estabelecer se já não há democracia no Brasil”.

Na visão do historiador português, a “luta” vai se dar no campo da democracia e será medida pela maior ou menor capacidade do regime democrático em não se degradar. A política da extrema-direita, o fascismo, em si, pode ser contido pela própria “democracia”, desde que essa tenha a capacidade de conter a extrema-direita nos marcos democráticos.

Loff desconsidera um problema chave do fascismo como um recurso último da burguesia imperialista para impedir a revolução proletária, diante da falência da sua forma tradicional de dominação via “democracia burguesa”. Portanto, trata-se de um regime de força para esmagar a classe operária e os partidos de esquerda e desse ponto de vista da própria destruição do “regime burguês democrático”.

Para caracterizar se Bolsonaro é ou não fascista, Manuel Loff aponta que: “O fascismo não se impõe, como disse, da noite para o dia: o programa do governo Bolsonaro é socialmente tão reacionário e, na sua tentativa de fundir os interesses das direitas políticas e econômicas do Brasil, tão ambicioso que deverá avaliar da necessidade de usar uma violência institucional, paralegal, que está fora do alcance de qualquer governo democrático. Se não hesitar em usá-la, a prática será muito próxima da abordagem fascista”

Se por um lado o historiador português aponte a possibilidade da evolução do governo Bolsonaro se tornar um governo com uma “abordagem fascista”, minimiza o fato de que o bolsonarismo é a versão mais completa e despudorada do fascismo no Brasil. Já em sua posse, afirmou sem rodeios que o seu governo tinha por objetivo acabar com o “socialismo no Brasil” e de lá para cá, todo dia é uma nova medida que implica no esmagamento do povo brasileiro, com o aumento da fome, da miséria e dos assassinatos pela máquina do Estado e pela extrema-direita.

Para Loff, o discurso que [Bolosonaro] tem sobre os movimentos sociais e políticos que se lhe opõem, sobre as mulheres, as minorias étnicas, a família, a nação, o Ocidente configura um neofascismo adaptado ao Brasil do século 21”. Quer dizer, o fascismo do século 21 teria se transformado em um movimento de tipo ideológico, que  “abandonou o discurso abertamente racista para passar a um discurso culturalista”  em oposição a “ditadura cultural marxista” daí o avanço na destruição do ensino público e do discurso conservador nos costumes de cunho religioso.

A exaltação de uma suposta ideologia fascista, que estaria avançando por todo o mundo é o encobrimento da falência política absoluta da “esquerda democrática” que se transformou no instrumento do imperialismo para implementar a política de tipo neoliberal diante da agudização da crise capitalista. É justamente na ausência de partidos revolucionários, que o fascismo ganha espaço para sua política de demagogia com os povos.

A “ideologia” fascista é absolutamente circunstancial em todo o mundo e no Brasil não é diferente. É uma política de ocasião. O movimento contra a corrupção é de tipo fascista. Em todos os regimes fascistas sempre foi usado como pretexto para atacar a esquerda. A operação Lava-Jato, por exemplo, é um movimento de tipo fascista. Visa aniquilar em primeiro lugar Lula e o seu Partido para abrir caminho para o avanço da extrema-dirteita no país, com a sua política de destruição nacional e uma expropriação sem limites da classe trabalhadora brasileira.

No caso brasileiro, o fascismo está sendo preparado e não é por obra dos bolsonaristas, em particular, mas por uma ação pensada do imperialismo. Ele pode e deve ser impedido, só que não será pelas instituições da “democracia formal”. Como ficou provado pelo golpe de 2016, todas as instituições em maior ou menor escala são os instrumentos que impulsionam o fascismo no Brasil. O único caminho para derrotá-lo passa pela intervenção consciente das massas independentes do Estado em um poderoso movimento para derrotar o golpe e por abaixo o governo Bolosonaro.

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