A Vale alega que a evacuação foi efetuada depois que relatórios da empresa que faz a auditoria de segurança da barragem foram revisados.
A mineradora informou por meio de nota que acionou o nível 2 do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM) para a barragem B3/B4 da Mina Mar Azul. “A decisão é uma medida preventiva e se dá após a revisão dos dados dos relatórios de análise de empresas especializadas contratadas para assessorar a Vale. Cabe ressaltar que a estrutura está inativa e essa iniciativa tem caráter preventivo”, informou a mineradora (Estado de Minas, 17/2/2019).
Uma integrante do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) declarou ao jornal Brasil de Fato que os moradores não sabiam o que fazer depois do anúncio feito pela Vale às 19h30 de sábado. “A Vale nunca apresentou um plano de emergência pra gente, foi solicitado diversas vezes, muito antes inclusive de Brumadinho; um dos lugares que um dos moradores informou pra gente ir é na associação de moradores, e aqui tem um plano de emergência impresso que nunca foi apresentado pra gente”.
Um morador antigo do distrito de Macacos, o comerciante Paulo Gonçalves de Melo, disse que a Vale só se dirigiu à população local com informações sobre a situação da barragem depois do rompimento da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. “Agora é que eles estão passando para a população uma coisa que estão escondendo há muitos anos: de que existe o perigo” (Estado de Minas, 17/2/2019).
Tal como em Brumadinho, a barragem foi erguida pelo método de alteamento a montante, mais barato e menos seguro para construções desse tipo. Cerca de 3 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, aproximadamente 25% do conteúdo da barragem que rompeu em Brumadinho, podem inundar o distrito.
Diante da situação, a Agência Nacional de Mineração (ANM) anunciou na última sexta-feira que proporá uma resolução para acabar com as barragens a montante até 2021. Existem 84 barragens como essa em todo o país, das quais 43 estão classificadas como de alto dano potencial, isto é, quando seu rompimento ou problemas no funcionamento acarretam a perda de vidas e danos sociais, econômicos e ambientais. A medida proposta pela ANM prevê que as mineradoras desativem as barragens até 15 de agosto de 2021.
“Macacos tá um caos. Há um despreparo imenso. As pessoas estão sem nenhuma informação, tivemos a informação de que alguns moradores ficaram ontem à noite na área de risco porque não teve transporte. Os animais estão abandonados nas propriedades, com o risco de morrerem de fome”, disse o integrante da Coordenação Nacional do MAB, Joceli Andrioli, que foi à cidade acompanhar os moradores evacuados.
Para ele, “a Vale é incapaz de construir um plano sério de evacuação”. O risco de novos desastres é iminente. “Denunciamos o caos instalado em Minas Gerais com outras barragens com risco de rompimento nas cidades de Barão de Cocais, Itatiaiuçu, Congonhas e Paracatu”, disse.
Juntamente com outras nove barragens, a de Macacos deveria ter sido desativada pela Vale. Mais de 500 pessoas foram evacuadas nas cidades de Barão de Cocais e Itatiaiuçu, em Minas Gerais, por risco de rompimento de duas barragens da Vale e da ArcelorMittal no último dia 8. Os moradores continuam em hotéis ou na casa de parentes, sem saber quando ou se voltarão às suas casas.
O ocorrido em Nova Lima demonstra que empresas como a Vale estão prestes a cometer mais crimes contra a população. Na realidade, o crime já foi cometido: a sede pelo lucro que levou à construção de barragens inseguras está cobrando o preço alto com destruição e mortes.