Semana passada, Leandro Karnal comentou os vazamentos da Lava Jato no Jornal da Cultura. Karnal é um dos palestrantes mais bem pagos do País, seu estilo motivacional de filosofia e ares eruditos garantiram a ele uma elevada estima diante do público leigo brasileiro.
Em 2017, o professor de História da Unicamp postou uma foto de um jantar onde estava à mesa com o juiz Furlan e o juiz Sérgio Moro. Após uma altíssima repercussão negativa, retirou a foto e publicou em sua página do Facebook uma explicação sobre ela e por que a tinha excluído. Como é característico do decano, o texto estava repleto de reflexões vazias e palavras desprovidas de significado, mas em suma, disse que o encontro foi elaborado por Furlan, e que lhe interessava conhecer Moro por ser uma pessoa histórica. Não se posicionou sobre a Lava Jato ou tomou nenhuma posição que pudesse o associar mais claramente com algum polo político em disputa no País, porém, para bom entendedor, quem se omitiu ou tentou aparentar estar em cima do muro durante o processo do golpe e da prisão de Lula é claramente um oportunista ou um golpista envergonhado. Segundo o próprio, o mundo não é linear, e com isso consegue carta branca para se esquivar de qualquer análise concreta dos acontecimentos da política brasileira, limitando-se sempre a fazer observações tão profundas quanto uma poça d’água.
Seus comentários sobre o vazamento não foram diferentes. Embora agora queira estar o mais longe possível de qualquer associação com Moro, suas falas continuam sem muito significado e sem posição sobre os acontecimentos. Quando indagado sobre o fato de o juiz se relacionar com uma das partes do processo põe em xeque toda a acusação, Karnal respondeu que isso é um debate sobre procedimento jurídico e que as relações entre Moro e Dallagnol mostraram que não foi garantida a neutralidade do juiz, e cabe aos juristas debaterem a questão. Resumindo, esquivou-se mais uma vez de portar juízo sobre o assunto e saiu pela tangente.
O escândalo da Lava Jato está botando em saia justa todos aqueles que se dizem de esquerda ou “progressistas” e que apoiaram essa farsa jurídica. Diante da tragicomédia escancarada, todos estão tentando limpar seu nome, tentando se apresentar como imaculados ou como iluminados. Fato é que a carcaça das instituições brasileiras está podre e o cheiro de Moro e da Lava Jato sempre foi inconfundível.