O deputado federal Jean Wyllys anunciou na quinta-feira (24) que não voltará ao Brasil, abrindo mão de seu mandato na Câmara dos Deputados. Segundo ele, a decisão se deve à perseguição política que está sofrendo.
O golpe de Estado de 2016 inaugurou, oficialmente, a ascensão da perseguição contra a esquerda por parte das instituições do Estado. Desde então, o Brasil vive cada vez mais um estado de exceção. Exemplo máximo disso foi a prisão ilegal do ex-presidente Lula.
Com a chega fraudulenta de Jair Bolsonaro à presidência da República, a burguesia demonstrou que irá utilizar a extrema-direita para tentar esmagar toda a esquerda nacional. O assassinato da vereadora Marielle Franco, do mesmo partido e estado de Wyllys, no ano passado, foi um claro indicativo.
Wyllys citou o caso Marielle como um dos motivos pelos quais saiu do Brasil.
Entretanto, embora exista claramente uma perseguição de grupos fascistas contra Wyllys e toda a esquerda, o deputado não apresentou detalhes sobre como seria essa perseguição. Seu “autoexílio” é diferente do que poderia acontecer, por exemplo, com o ex-presidente Lula, a ex-presidenta Dilma Rousseff ou a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann. Eles estão sob constante ameaça de morte e sofrem atualmente processos na Justiça golpista que poderiam justificar uma saída do País.
Mas, a principal diferença, é que Wyllys anunciou uma posição capituladora: irá desistir da política, dedicando-se à carreira acadêmica. Qualquer um dos citados no parágrafo acima, caso tivessem de se exilar, continuariam a militância contra o golpe e contra o governo Bolsonaro, denunciando e organizando um movimento internacional. O que seria a postura correta.
Essa postura do deputado é uma postura errada e desmoralizadora para toda a esquerda brasileira. É um incentivo para que desista de lutar contra o golpe e contra o governo ilegítimo de Bolsonaro.
Jean Wyllys e seu partido, o PSOL, durante todo o processo de golpe de Estado adotaram uma posição centrista ao não lutar de forma decidida contra a direita, permitindo que essa situação ocorra neste momento.
O deputado, sendo uma vítima de perseguição de grupos fascistas, deveria convocar os militantes de seu partido e de toda a esquerda a lhe prestarem solidariedade e a formar comitês de autodefesa para enfrentar os ataques da extrema-direita. O próprio PCO, que tem muitas divergências com sua política pequeno-burguesa e pró-imperialista, participaria de maneira decidida dessa mobilização, inclusive agitando para a formação de uma frente de luta da esquerda e dos trabalhadores contra a extrema-direita.
Essa deveria ser a política a ser seguida: diante das ameaças, dos ataques, das perseguições por parte da extrema-direita, a esquerda deve se unir, de forma independente da burguesia, em comitês de autodefesa e em um amplo movimento de massas. Só assim poderá derrotar os fascistas, até porque os pobres, os trabalhadores, as bases dos partidos de esquerda, não poderão fugir para fora do País tentando escapar da perseguição política.
Jean Wyllys jogou a toalha. É preciso denunciar a perseguição que ele e todos os militantes de esquerda estão sofrendo, e organizar a luta contra essa perseguição política fascista, realizando a contra-ofensiva das massas populares para derrubar o governo ilegítimo e de extrema-direita de Bolsonaro, derrotar o golpe, libertar o preso político Lula e erguer um governo operário.
Leon Trotsky, em “Revolução e Contra-Revolução na Alemanha”, já apontava o caminho para os trabalhadores diante da ofensiva fascista:
“Operários comunistas, não podereis seguir para parte alguma! Para vós não haverá passaportes para o estrangeiro que bastem. No caso em que o fascismo suba ao poder, ele passará sobre os vossos crânios e as vossas espinhas dorsais como um tanque terrível. Só há salvação na luta implacável.”