A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ao ir à posse do presidente eleito da Venezuela, Nicolás Maduro, acirrou o racha interno do maior partido de esquerda da América Latina. De um lado, os representantes da classe trabalhadora, os sindicalistas, os líderes de movimentos populares, os marxistas – aqueles que compreendem que o regime venezuelano constitui um importante foco de residência ao imperialismo norte-americano em nosso continente. De outro lado, a esquerda oportunista, teórica, fisiologista, que mendiga sofregamente a aprovação da burguesia e de sua imprensa – aqueles que se irmanaram a Luciana Genro (PSOL) e ao MBL para condenar o apoio da presidente do Partido a Maduro: a ala direita do PT enfim.
Esta ala direitista quer transformar o PT num PMDB: um partido fisiologista que comercializa prebendas em troca de leis dentro da institucionalidade golpista, e que a longo prazo nada mais constitui que um trampolim de poder para pequenas oligarquias regionais. Esses elementos trêfegos teriam pregado que o apoio do PT a Maduro “se limitasse a uma carta ou nota de congratulação” – na verdade, um gesto político de desprestígio. Como não enxergam além de seus interesses pessoais, não entendem que o golpe de Estado no Brasil, a eleição de Jair Bolsonaro e a ameaça constante de golpe militar constituem parte de um plano continental dos Estados Unidos para manter uma reserva de recursos em seu quintal. Não compreendem que o boicote internacional à Venezuela – que promoveu a crise de abastecimento vivida pelo país – é conduzido pelos mesmos agentes que comandaram a destruição da Petrobrás via operação Lava-Jato.
Evidentemente, tais grupos recebem apoio externo da imprensa golpista, que condenou amplamente o apoio a Maduro – que reputam como ditador, por não se curvar aos interesses das grandes petroleiras internacionais. Um artigo de opinião da Folha de S.Paulo, por exemplo, qualificava o gesto de Gleisi de sectarismo, profetizando confusamente que “a ida a Caracas será lembrada como o ponto de ruptura dos atuais dirigentes com todos os princípios que nortearam a história do partido”. Leitura canhestra, que não entende nem a composição de forças atual do PT nem os princípios que orientaram sua formação a modo de frente ampla na década de 1970, mas sempre com bases populares, e não burguesas.
Com o golpe e ascensão do fascismo bolsonarista, a intenção da burguesia e do imperialismo é destruir as organizações populares e perseguir suas lideranças. No centro desse ataque está o PT. Entretanto, como, de hábito, é preciso criar uma ilusão de oposição esquerdista – preferentemente parlamentar – dentro desse regime de direita. Assim restaura-se algo do verniz democratista que sana os pruridos moralistas da classe média. Não é outra a intenção da Folha de S.Paulo ao convidar colunistas como Guilherme Boulos para suas colunas. A Folha apoiou a ditadura militar e a ascensão de Bolsonaro até 2018, quando durante a campanha eleitoral voltou-se contra o capitão do exército – não por estar contra o fascismo representado pelo regime militar, mas por alinhar-se com o núcleo duro do imperialismo financeiro internacional, o mesmo que rege a The Economist, o Wall Street Journal etc. Para esses “democratas”, o candidato preferencial sempre fora Geraldo Alckmin, que perdeu o apoio da burguesia nacional na reta final do pleito.
Nem a Folha nem seus colunistas são democratas. Eles estão a serviço do imperialismo, cujo regime preferencial sempre foi a ditadura – como o demonstra a história do século 20. Gleisi Hoffmann e o PT mostram firmeza de propósito e um amadurecimento à esquerda ao apoiar resolutamente o regime de Maduro contra o grande Capital internacional.