O neoliberalismo promove o sucateamento das instituições públicas de ensino, e, num segundo momento, se utiliza das consequências óbvias dessa política para justificar uma intervenção militar nas escolas.
Essa tática repete-se em Campinas (SP), mas já foi utilizada em Brasilia (DF), mesmo sem garantia alguma de resultado, as escolas são entregues a forças autoritárias que reprimem os estudantes e interferem em seu aprendizado e no ambiente escolar. Como no episódio do Colégio Militar Dom Pedro II no Distrito Federal, onde numa reunião de pais e alunos, a mãe da estudante abordada explicou que a filha foi aconselhada por um “monitor” a cortar ou “alisar” o cabelo, com tranças afro, para que não sofresse alguma sanção. O constrangimento da aluna foi relatado por sua mãe, que considerou a atitude racista.
No caso de Campinas, está em andamento um projeto que prevê que os militares entrem nas escolas entre março e abril de 2020, caso o plano se concretize, campinas será 1ª cidade do estado de São Paulo a aderir ao programa de militarização. A escola foi indicada, alega a prefeitura, por estar em área de vulnerabilidade (região sul da cidade), não ter alcançado a meta estabelecida no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), possuir entre 500 e mil alunos e turmas de 6º a 9º anos do Ensino Fundamental, o que vai de encontro aos relatos dos pais e professores que afirmam que a escola tem uma estrutura boa e não esta passando por dificuldades que justifiquem a presença desses agentes.
“A estrutura da escola é boa. Os computadores funcionam, a biblioteca funciona. As salas não têm problema de móveis depredados. A escola não tem pichação, tem um parquinho que foi construído recentemente”, relata o professor Cleber Fernandes Nogueira.
Segundo o professor, que atua na escola há um ano, a tese que justificaria tal intervenção é infundada, visto que a escola não apresenta casos graves de indisciplina.
“Do ponto de vista de uma pedagogia mais democrática, serve como um momento educativo, de diálogo (…) Que outras soluções poderiam ser dadas, quais as consequências da indisciplina. Você propõe e isso constrói a autonomia. O aluno passa a ser consciente, e não por ter medo”, ele coloca.
É extremamente grave que forças externas atuem dentro das instituições de ensino, ainda assim terão direito de propor atividades aos alunos. Na verdade a presença militar na escola é por si só uma aberração que deve ser combatida, visto que esta nada tem a agregar para o debate em sala de aula, vide exemplos em Brasília.
No mais, é evidente que a presença desses agentes não trará consequências positivas para os índices de desenvolvimento educacional de forma mágica, como tentam pintar aqueles que apoiam esse projeto, muito pelo contrário, o cerceamento das liberdades no ambiente de aprendizado traz consigo graves retrocessos no desenvolvimento do pensamento critico analítico, visto que a repressão é contra a inovação, avanço, enfim, contra a própria educação.