Enquanto milhares de bolivianos estão nas ruas, lutando contra os golpistas que derrubaram o presidente Evo Morales no último dia 10, Morales dá uma entrevista para o jornal argentino Página 12, onde afirma que, pela “pacificação”, não irá concorrer às novas eleições presidenciais.
“Houve uma reunião com a garantia das Nações Unidas, da Igreja Católica e da União Europeia. No dia em que cheguei ao México, pedi em uma entrevista coletiva para facilitadores e personalidades internacionais de todo o mundo que ajudassem a pacificação da Bolívia. Felizmente, essa reunião acaba de acontecer, da qual o governo de fato de Jeanine Añez participou. O Movimento ao Socialismo representa dois terços dos senadores e deputados. Faremos o melhor pela unidade. E pela pacificação, desisto da minha candidatura. (…)”
Neste trecho da entrevista chama a atenção as instituições presentes na reunião em que Morales participou e pediu ajuda na “pacificação da Bolívia”. São instituições imperialistas, que defendem a burguesia e representam e representam o golpismo na América latina e em todo o mundo. Como estas seriam capazes de pacificar um país? Todas têm um histórico de apoio às ditaduras fascistas e também de tentativa de derrubada do presidente venezuelano Nicolás Maduro.
“Farei o possível para pacificar a Bolívia. Eu desisti da candidatura, ainda que estivesse habilitado a me candidatar à Presidência. Eu digo que renuncio para que não haja mais mortos, nem mais agressões. Você sabe por que renunciei na tarde de domingo com o irmão García Linera? Porque eles pegaram meus irmãos líderes, militantes, governadores, prefeitos e disseram que iriam queimar suas casas se eu não renunciasse. O irmão do presidente da Câmara dos Deputados foi informado: ‘Se o seu irmão não renunciar, nós o queimaremos na praça.’ Eles queimaram a casa da minha irmã em Oruro. Do racismo ao fascismo e do fascismo ao golpe. Foi o que aconteceu na Bolívia. Por esse motivo, busco unidade e pacificação. (…)”
Essa fala de Morales é um completo absurdo. Ele tem ciência de todas as ameaças, as agressões, os assassinatos contra o povo boliviano, mas pede pacificação? O povo está desesperado, estão nas ruas sem nenhum preparo e nem armas para isso, usam paus e pedras para enfrentar a direita que quer ver toda a classe trabalhadora boliviana na miséria, na fome e sem dignidade. Evo Morales e o MAS (Movimento ao Socialismo) tinham que organizar a luta dos trabalhadores e não confundi-los com essa política ilusória, reunindo-se com os representantes do imperialismo, com os golpistas, para pedir paz ao povo boliviano. Longe das ilusões reformistas, a grande maioria da população foi para o enfrentamento nas ruas e tem ampliado a mobilização contra a extrema-direita.





