Na década de 1980, o movimento operário, em meio a uma gigantesca mobilização, incluindo greves, piquetes e enfrentamentos com a extrema-direita, derrubou a ditadura militar. O regime político entrou em colapso e, em consequência do movimento dos trabalhadores, todos os perseguidos pela ditadura foram anistiados. No entanto, todos os militares, que perseguiram, torturam, prenderam e até assassinaram milhares de pessoas também receberam a anistia.
A anistia pós-ditadura foi um acordo da esquerda com os vigaristas da burguesia que cometeram inúmeros crimes contra a população. Naquele momento, os trabalhadores estavam em uma ofensiva contra seus algozes, e a política da esquerda deveria ser a de dissolver completamente o regime político – prisão para os torturadores e cassação dos partidos da ditadura militar. No entanto, a opção foi a de permitir que a burguesia mantivesse o controle sobre o regime – os partidos da direita se mantiveram, a exemplo do DEM, e nenhum torturador foi punido.
Não havia qualquer necessidade que justificasse um acordo com os golpistas à época. A burguesia não tinha condições de controlar o movimento operário – se os trabalhadores colocassem os capitalistas contra a parede, teriam suas reivindicações prontamente atendidas. Na prática, o acordo fez com que a esquerda salvasse a burguesia, que estava pronta para ser liquidada pela mobilização dos trabalhadores.
Hoje, momento em que o país vive novamente um golpe de Estado e é governado por um presidente ilegítimo de extrema-direita, o acordo da anistia pode sofrer alterações. A direita não está mais encurralada pelos trabalhadores como estava na década de 1980 – na verdade, está em uma ofensiva contra todos os direitos conquistados recentemente. Tudo indica que, ao contrário da postura erradamente “piedosa” que a esquerda teve no fim da ditadura militar, a direita aproveite as condições para rasgar o acordo feito em torno da anistia.
A direita quer voltar a perseguir todos aqueles que lutaram contra a ditadura militar, de modo a tentar intimidar todos aqueles que se voltem contra o regime político hoje. O presidente ilegítimo Jair Bolsonaro, por sua vez, pretende retirar a anistia dada a determinados militantes da luta contra a ditadura, tipificando-os como terroristas.
A tentativa vigente da extrema-direita de destruir a anistia para os perseguidos pela ditadura mostra que o acordo com os golpistas foi um erro. É necessário, portanto, que os trabalhadores se organizem de forma independente para derrubar de vez o regime político. Fora Bolsonaro e todos os golpistas!





