Nesta última terça-feira (15), logo após um ultimato da advogada de Bolsonaro ao presidente do PSL, Luciano Bivar, para que sejam abertas as contas da última campanha do partido, a Polícia Federal cumpriu uma busca e apreensão de documentos na residência de Bivar, na sede do partido em Pernambuco e em uma gráfica utilizada pela legenda.
O uso da Polícia Federal, por Bolsonaro, em sua disputa com Bivar pela direção do PSL ficou evidente.
O líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir, amigo de Bivar, chegou a dizer:
“Só o Saci Pererê e o Papai Noel que não sabiam dessa operação da PF. Todo mundo sabia depois da fala do presidente na semana passada. Ele deu o recado.”
E o “recado” claro de Bolsonaro é simples e direto. Sempre que o regime tiver interesse em alguma informação partidária, a ação será no melhor estilo fascista: a polícia irá simplesmente bater a bota na porta do partido e extrair, à força, todas as informações que quiser.
O PSL foi criado às pressas para servir de base política ao Bolsonaro. Um verdadeiro partido de aluguel, comum na direita, onde um pequeno grupo manda em toda a legenda, sem qualquer participação democrática real de seus membros na condução do partido.
Construído a toque de caixa, o partido não tem coesão interna, fica tudo na base do oportunismo. Nesta condições, qualquer pressão leva o partido a desmoronar.
Para Bolsonaro, o problema é que ele não está de fato no controle do PSL. Esbarra em Bivar e seu séquito que realmente têm nas mãos a legenda, o que implica em terem o controle sobre centenas de milhões de reais de Fundo Partidário, por exemplo, dinheiro imprescindível para o projeto de poder de Bolsonaro.
Como Bivar não se mostra nem um pouco disposto a abrir mão sobre o poder do PSL, Bolsonaro passou da coação – mandando recados diretos ou indiretos de que iria tomar este poder à força – à ação direta, usando o aparato repressivo do Estado capitalista para pegar, na marra, as informações de que necessita para até mesmo chegar a levar Bivar para a cadeia, acaso não ceda ao bolsonarismo.
Trata-se de um episódio da mais clara demonstração da total desagregação do sistema político brasileiro.
Ainda que o PSL, ou o PSDB, MDB e DEM sejam todos uma total bandalheira, como são todos os partidos burgueses, onde o que fala mais alto mesmo é a força do dinheiro, onde “laranjas” e candidatos “fantasmas” e venda de legendas sempre foram comuns, todos os partidos políticos são – ou deveriam ser – entidades privadas independentes, associações de cidadãos livres para levarem avante suas políticas, que não deveriam sofrer nenhuma interferência estatal, mas serem unicamente controladas por seus próprios membros.
A independência partidária é uma das premissas mínimas da democracia. Quando o Estado intervém nos partidos, qualquer ação política que se contraponha aos interesses de quem tem o poder estatal na mão serão sumariamente perseguidas, como ocorreu com vários partidos da esquerda, na Lava-Jato, por exemplo.
Usar a PF para assuntos relacionados ao Direito Eleitoral, mostra que Bolsonaro levou a intervenção do Estado sobre os partidos a um ponto crítico inaceitável.
Quando chegamos ao ponto de a PF intervir em uma disputa partidária, não temos mais partidos, eles passam a fazer parte do Estado capitalista.





