No dia 30 de julho, o conselho deliberativo do Corinthians, a presidência e conselho de orientação decidiram, após pressão realizada por 25 conselheiros eleitos pela chapa “Fieis Escudeiros”, que ficou em segundo lugar na eleição, retirar da exposição “Corinthians Basquete” a camiseta que o ex-armador Gustavinho utilizou ao subir ao pódio para receber as premiações com as palavras “quem matou Marielle?”. A alegação da diretoria seria de que a camiseta não foi utilizada durante o jogo e, por isso, a única representação que deveria permanecer na exposição seria a foto tirada no momento da entrega das medalhas.
Este grupo de conselheiros direitistas, que pediram a retirada da peça, ainda alegaram que a exposição desta seria um ato político. O conselho deliberativo do clube informou que não se manifestaria sobre o caso, alegando que há uma série de torcedores insatisfeitos com a exposição, além de se eximirem da situação deixando “o barco correr”. Que todos os clubes de massa do país tenham elementos direitistas não é novidade alguma, mas usar essa afirmação para ceder às pressões da direita é retirar-se da luta no momento mais importante.
A ex-companheira de Marielle, Mônica Benício ainda comentou o caso: “Agora, acho muito pobre, triste, e perdemos todos, principalmente a democracia, quando o argumento que é utilizado é um argumento que não se pode falar de política ou religião. Porque falar de Marielle não é falar de política ou religião, é falar de defesa da democracia em tempos de barbárie, que a gente vive hoje”. Aqui temos que esclarecer uma confusão, pois falar de democracia é, sim, falar de política. E falar de política no contexto de fortalecimento do fascismo é de total importância. Se colocar contra a defesa da democracia, como fez a diretoria do clube é capitular diante da pressão da extrema-direita.
Quem conhece o mínimo da história do clube de Itaquera sabe, inclusive, que a política esteve presente em muitos momentos, sendo sua expressão mais conhecida o movimento “Democracia Corinthiana” encabeçada pelo “Doutor Sócrates”, grande jogador dos anos 80, que teve papel político importante na luta pelo fim da ditadura, quando entrou em um jogo com uma faixa escrito “Ganhar ou perder, mas sempre com DEMOCRACIA” e em outros momentos inclusive este sendo amigo do ex-presidente Lula, que não por coincidência é torcedor do Corinthians. Não se limitando a esse episódio, o clube foi fundado por operários negros, na década de 1910, para que estes pudessem praticar esportes sem que, para isso, tivessem que participar das agremiações da alta burguesia paulistana da época.
A repercussão diante da torcida foi imediata, a página “Meu Timão”, através do colunista Victor Farinelli, noticiou o ocorrido com o título “a antidemocracia corinthiana” afirmando que os conselheiros fazem parte de uma classe social que não representa a base da torcida e que estes se acovardaram diante da situação, dissimulando seu viés políticos através de uma suposta defesa de neutralidade. O colunista ainda afirma que o clube hoje é “adepto da censura a uma expressão contra a impunidade de um assassinato político”. Aqui é importante ser dito, os torcedores, não só do Corinthians, devem ser organizar e repudiarem a lamentável decisão da diretoria e, mais que isso, impedir que a extrema-direita tome conta do esporte mais popular e democrático do país. A ação das torcidas antifascistas, mais que nunca, é necessária.