A escalada golpista na Bolívia avança velozmente rumo a uma ditadura aberta e sem disfarces. O país vivencia, há mais de um mês, desde quando os golpistas e a extrema direita foram mais uma vez derrotados nas urnas, uma situação não só de caos social, político e institucional, mas um grande levante popular, onde a grande maioria da população partidária do presidente eleito (e deposto, via golpe de Estado) Evo Morales, trava, na capital, La Paz, El Alto e outras cidades, um desigual (a população está desarmada) enfrentamento com as forças do Exército e da Polícia. A repressão na Bolívia vem perpetrando um assombroso morticínio contra ativistas de esquerda, manifestantes e populares, que ocupam as ruas do país em enfrentamento com a extrema direita, representantes da política da burguesia e do imperialismo no empobrecido país altiplano.
A ofensiva da extrema direita contra os explorados bolivianos foi acentuada em função não só da renúncia, mas principalmente da vergonhosa capitulação de Evo Morales e de seu partido, o MAS, que se prostraram às ameaças dos generais golpistas, recusando-se a dirigir um chamado à mobilização e à luta contra os prepostos do imperialismo no país, abandonando as massas à sua própria sorte ante a brutal e feroz repressão do Exército, tradicionalmente golpista e braço armado dos interesses da oligarquia reacionária direitista boliviana.
A capitulação do MAS e de Morales não só abriu as portas para que a extrema direita desencadeasse a repressão contra os manifestantes que lutam contra o golpe, como que agora a ofensiva direitista se dá contra o próprio presidente deposto. Arturo Murillo, ministro do Interior do governo golpista declarou que o ex-presidente indígena deveria ficar preso pelo “resto da vida”. O ministro direitista afirmou ainda que Evo Morales é o responsável por “incitar protestos antigovernamentais, alegando serem terroristas e que ele (Evo) vem orquestrando esforços para estrangular as cidades bolivianas, ordenando que os seguidores erigissem barreiras que deixariam seus moradores com fome e sem combustível” (The Guardian, 24/11).
Muito distante de pacificar o país e evitar um “banho de sangue”, como pretendia Morales e o MAS com a renúncia e o abandono da luta, a capitulação diante do golpe fez despertar na extrema direita, na burguesia e no imperialismo todas as mais hediondas e insanas bestialidades contra a esquerda boliviana e a população que luta nas ruas do país contra o golpe. A direita se prepara para legitimar o golpe de Estado contra a vontade soberana das massas populares expressa nas urnas, anunciando “novas eleições” para daqui a noventa dias, onde nem Evo Morales e nem seu vice, Álvaro García Linera, poderão concorrer como candidatos. O próprio Morales vem endossando o golpe quando afirma estar disposto a não participar da próxima eleição presidencial, caso tenha permissão para voltar ao país e terminar os últimos meses de seu mandato.
Os acontecimentos que marcam o desenvolvimento da luta de classes na Bolívia e na luta insurgente das massas populares em várias regiões do continente deixam importantes lições de aprendizado para a esquerda latino americana, particularmente em relação ao caminho que não deve ser seguido pelas direções dos movimentos e dos partidos de esquerda para conduzir os explorados em sua luta contra a extrema direita, a burguesia e o imperialismo. As forças reacionárias e direitistas do continente, apoiadas pelos exércitos golpistas de cada país somente poderão ser derrotadas através de uma luta tenaz e decidida do conjunto da população, em primeiro lugar da classe trabalhadora, do proletariado, guiados por uma orientação política classista, independente e revolucionária.





