Acordo de Itaipu não beneficiaria o Brasil, apenas Bolsonaro

Um acordo entre os presidentes Abdo Benitez, do Paraguai, e Jair Bolsonaro, do Brasil, foi assinado em 24 de maio, mas seus detalhes foram mantidos em segredo. Esse acordo visava a estabelecer novos parâmetros para a partilha de eletricidade excedente gerada pela hidrelétrica binacional de Itaipu (a segunda maior do planeta).

Mesmo depois da assinatura do acordo, a Administración Nacional de Electricidad (Ande), estatal elétrica paraguaia, não cedeu, por discordar do acordo, o que gerou insatisfação por parte do governo brasileiro. Por isso, em junho, o então embaixador paraguaio em Brasília, Hugo Saguier, foi convocado ao Palácio do Planalto e recebido uma manifestação oficial do governo brasileiro pelo não cumprimento do acordo de maio pela Ande.

A verdade é que esse acordo foi firmado pela ‘via diplomática’ exatamente porque os técnicos da ANDE rechaçaram vários pontos do acordo, entre os quais dois bastantes polêmicos:

  • A obrigação de o Paraguai comprar mais energia – mesmo que não a utilizasse, o que faria o país a perder cerca de 200 milhões de dólares ao ano entre 2019 e 2022;
  • A retirada do ‘item 6’ (do acordo em vigor), que estabelecia critérios para a venda do excedente de energia a empresas brasileiras interessadas.

Por causa desses itens, entre outros, o presidente da ANDE, Pedro Ferreira, segundo a imprensa, após a pressão do governo Bolsonaro, pediu demissão declarando que tais pontos consistiam em “traição à pátria” e “extorsão financeira”.

O que ficou escondido, junto com os termos do acordo, foi o lobby da empresa brasileira Léros, ligada ao PSL, partido do presidente Bolsonaro, junto ao vice-presidente do Paraguai.

Joselo Rodríguez, assessor jurídico da Vice-Presidência, falando em nome do vice-presidente da República, Hugo Velázquez, fez pressão sobre Pedro Ferreira, da Ande, em favor da Léros, denunciada no país como ligada a Bolsonaro.

Ferreira relatou a imprensa paraguaia que teria sido o próprio vice-presidente Velázquez quem o apresentou ao advogado Joselo ‘como seu representante e homem de sua confiança’.

Ainda segundo Pedro Ferreira, o vice-presidente teria dito que Joselo seria seu representante “em todas as conversações relativas à venda de energia à empresa brasileira (Grupo Léros)’”.

Por sua vez, o representante da empresa Léros, junto aos diretores da estatal de energia do Paraguai, era o suplente de senador Alexandre Giordano, do PSL, partido de Bolsonaro, que, segundo mensagens recuperadas e publicadas na imprensa local, dizia falar em nome do presidente brasileiro.

Alexandre Giordano é suplente do senador Major Olímpio (PSL/SP).

Com a revelação de diversos diálogos, tudo aponta para o fato de que o presidente paraguaio conhecia, com antecedência, os termos do acordo e que estaria ciente de que ele impactaria o custo da energia no Paraguai, em prejuízo dos cidadãos paraguaios, além disso teria orientado que o acordo fosse mantido em sigilo.

Abdo Benitez teria, após pressão de Jair Bolsonaro, escrito ao presidente da Ande: “Eu quero uma solução para isso”, dizendo que a situação era lamentável.

Por causa dessas mensagens, esclarecendo a má fé dos mandatários, atuando contra os interesses do próprio país, com a iminência da apresentação de pedido de impeachment, o governo anulou a ata diplomática na tentativa de impedir o processo.

Do lado brasileiro, o mistério das negociações ainda segue. Um empresário de São Paulo, mas com endereço na capital do Paraguai, de nome Nicolas Martin Kac Pinto, teria encaminhado a Alexandre Giordano correspondência com uma cópia do protocolo firmado entre o Brasil e o Paraguai para análise do ‘representante da Léros’.

No meio da confusão, caiu o chanceler, Luis Castiglioni. Por sua vez, a Procuradoria do Paraguai iniciou investigações sobre o caso, montando uma equipe para ouvir os envolvidos e examinar as provas. O Senado também teria se movimentado e indicou os integrantes de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o ‘escândalo.

No Brasil, a imprensa burguesa se faz de cega. Não se vê quase nenhum esforço para desvendar os caminhos que seguiu a empresa Léros e o suplente de senador, Alexandre Giordano, do PSL, até chegarem no momento da assinatura do ‘novo’ acordo da Itaipu.

Pouparam igualmente o senador Major Olímpio e o presidente Bolsonaro, mas não resta dúvidas de que o acordo não trazia vantagens ao Brasil, mas ao próprio Bolsonaro e ao PSL, talvez de olho nas próximas eleições.

Alexandre Frota, também do PSL, publicou em seu twitter, alfinetando o seu agora desafeto Major Olímpio:

“Major seu sócio declarou na (Revista) Piauí que não conhece Eduardo? Mas o Partido está em uma sala do Giordano em Santana esqueceu?”

No Paraguai, está claro para a população que o ocorrido foi traição ao país e um ataque ao cidadão paraguaio. Que mandatário aceitaria um acordo prejudicial ao seu pais e a seu povo se não fosse por dinheiro? Se não fosse pensando em ganho privado e/ou aumento de seu capital político?

Do lado do Brasil, se é verdade que já haveria uma revisão do acordo em 2023, qual o real interesse em acelerar sua mudança agora? como uma empresa ligada ao PSL entrou na jogada? Por que o presidente da república teria pessoalmente tratado de um acordo desse tipo, sabidamente problemático? Por que mantiveram tudo em sigilo?

Não resta dúvida de que não se trata de patriotismo ou de abnegação, mas de estratégia para enriquecimento pessoal e/ou garantir financiamento para as próximas eleições.

Pelo visto, o acordo não beneficiaria nem o Paraguai, nem o Brasil, mas apenas e principalmente Jair Bolsonaro e seu correlato paraguaio.

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