A tendência mundial da classe operária é uma guinada à esquerda

No dia 16 de agosto, o jornal Gazeta do Povo, um dos principais periódicos da extrema-direita brasileira, publicou um artigo intitulado “Tendência mundial: a classe operária deu uma guinada à direita”. Apresentando uma série de distorções, o texto tenta convencer o leitor de uma tese absolutamente falsa: a de que haveria um deslocamento da classe operária mundial à direita.

Não há uma guinada dos trabalhadores à direita em lugar algum do Mundo. O que há, na verdade, é uma revolta crescente dos trabalhadores à política neoliberal implantada pelos bancos – política essa de massacre total dos povos em favor dos capitalistas. O apoio popular à política econômica da burguesia é cada vez mais escasso, fato esse que tem levado todos os partidos tradicionais à falência.

O argumento que o artigo em questão levanta para defender sua tese é o de que a direita – na verdade, a extrema-direita – estaria conquistando cada vez mais votos da classe operária. Diz o texto:

“Uma das críticas da esquerda sobre a direita é que ela seria um movimento das elites, mas os números mostram uma tendência diferente: levantamentos mostram que as classes mais baixas tendem a serem mais conservadoras e votar na direita. E essa proporção se mostra presente nos resultados de eleições recentes”.

A vitória eleitoral da extrema-direita m vários países não comprova que os trabalhadores sejam favoráveis a uma política de destruição dos seus direitos. Comprova, na verdade, a falência dos partidos e políticos tradicionais: na medida em que o Partido Socialista da França, os Democratas, dos Clinton, nos EUA, o PSDB no Brasil, entre tantos outros, foram liquidados pela impopularidade da política neoliberal, a burguesia não teve outra alternativa a não ser impulsionar, respectivamente, o Em Marcha!, de Emmanuel Macron, Donald Trump e o PSL.

A revolta contra a política da direita foi o que liquidou os partidos da direita – considerar que os trabalhadores estariam abandonando a esquerda seria, portanto, absurdo.

A crise acelerada dos partidos burgueses e das alas direitistas dos partidos vinculados ao movimento popular foi o que forçou a burguesia a dar uma série de golpes de Estado e apostar suas fichas no último recurso – a extrema-direita, que, embora não seja majoritária, consegue mobilizar alguns setores da classe média desesperada e utilizar de pesados recursos do imperialismo e de uma violência brutal para aparentar ser um movimento com grande apoio popular que não têm.

Os países que o próprio artigo cita reforçam o deslocamento dos trabalhadores à esquerda. A França e a Áustria, onde houve um aumento expressivo dos votos da extrema-direita, são exemplos de países em que a política neoliberal fracassou completamente. A crise causada pelos protestos dos coletes amarelos colocou todo o regime político francês em xeque – e o que movia os manifestantes era claro: a revolta contra a política dos banqueiros. A extrema-direita aparece, portanto, como um recurso da burguesia para tentar recuperar os votos que os partidos tradicionais vêm perdendo. Tal movimento, no entanto, só tem sido possível porque a postura das direções das principais organizações de esquerda tem sido a de colaborar com o regime político – e não de derrubá-lo -, o que permite que a demagogia da extrema-direita avance.

O texto também cita o Brasil como exemplo de país onde a classe operária estaria se tornando mais direitista. No Brasil, a revolta da população contra a política neoliberal fez com que o Partido dos Trabalhadores (PT) vencesse quatro eleições seguidas. Até mesmo em 2014, com um golpe de Estado em marcha, a direita não conseguiu vencer as eleições. A presidenta Dilma Rousseff foi derrubada em 2016 e o governo Temer, imposto pelo imperialismo, viu sua popularidade ser reduzida virtualmente a zero em pouquíssimo tempo. Progressivamente, os militares, que participaram do golpe, foram assumindo cada vez mais o protagonismo da situação política.

A insatisfação com o governo Temer – que congelou todos os gastos do governo durante 20 anos e tentou aprovar a “reforma” da Previdência em seu governo -, a revolta contra a repressão e o descaso total dos governos estaduais da direita e a situação econômica cada vez mais deteriorada levaram os trabalhadores brasileiros e a população em geral a se mobilizar em torno da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República. Mesmo preso, Lula era o favorito para ganhar as eleições de 2018 – havendo inclusive a possibilidade de ganhar em primeiro turno. A direita, no entanto, cassou ilegalmente sua candidatura e realizou uma série de manobras – incluindo a cassação de mais de 2 milhões de votos e a invasão de sedes partidárias – para fazer com que Jair Bolsonaro, comprometido até o último fio de cabelo com a burguesia, vencesse as eleições. Não houve guinada à direita, houve uma fraude eleitoral escancarada.

Ao contrário do que anuncia a imprensa burguesa golpista, portanto, o aumento da crise e a intensificação dos ataques contra os trabalhadores e demais setores explorados está impulsionando uma enorme polarização política puxada pela reação dos trabalhadores e suas organizações, dentre elas os partidos de esquerda, contra essa ofensiva, que não para de crescer.

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