A luta por reivindicações democráticas é uma luta pelo socialismo

Na luta política empreendida pela esquerda, é comum que o militante se depare com um obstáculo de natureza prática, que podemos simplificar em duas vertentes fundamentais:

  • lutar por uma reivindicação específica, que atenda de pronto a uma demanda pontual, seja de uma categoria ou de um coletivo; ou
  • empreender uma luta ampla, com um objetivo mais ambicioso, tendo aquela reivindicação pontual como uma etapa ou aspecto da luta maior;

Mesmo que atender àquela demanda pareça essencial a princípio, a experiência histórica dos movimentos da classe operária ensina que há uma luta fundamental mais ampla, a luta pelo socialismo, e da qual não se deve desviar, sob pena de perder algum eventual avanço pontual conquistado.

Isso ficou claro na experiência do Golpe de 2016, quando, ainda sob o governo Temer, muitas das conquistas, operacionalizadas de maneira dispersa durante os governos do PT, foram demolidas a canetadas, de um modo muito rápido e contundente.

A burguesia nacional e o imperialismo nem precisaram corar frente aos ataques que promoveram desde então, pois, assim como os ataques estão dispersos, a reação contra eles também está. Isto enfraquece os focos de luta, facilita a repressão por parte do aparelho estatal, além de desmobilizar os setores capazes de empreender uma luta de massas quando provocados.

O PCO, em mais um momento de suas análises politicas da semana, aborda o tema, e descreve uma alternativa a essa estratégia de enfrentamento, assista:

Momentos da Análise Política da Semana do dia 22 de junho de 2019, por Rui Costa Pimenta
vídeo completo: https://youtu.be/_bpKYZWjifg

Transcrição

… Vocês me desculpem de lembrar as coisas de ontem, mas ela são interessantes para a reflexão.

Alguém falou assim, que nós não devemos confundir a luta por determinadas reivindicações democráticas com a luta estratégica, que seria a luta pelo socialismo.

Não. Não pode haver esse tipo de divisão da coisa.

Isso significaria que nós estamos lutando num sentido, quando na verdade nós queríamos ir no outro sentido.

Então nós estamos aqui, na luta democrática, e estamos indo por esse caminho aqui… Mas na verdade nós queremos ir por aquele caminho ali.

E como é que nós vamos fazer? Se nós estamos indo pra lá, como é que nós vamos fazer pra ir cá? É uma coisa meio estranha.

A política, ela tem que ter uma coerência. Se você é socialista, você luta pela revolução, e você acha que a luta democrática desvia você do caminho da luta socialista e pela revolução, então você não tem que fazer a luta democrática.

O que que seria isso dai? Dois caminhos diferentes, contraditórios, para chegar a dois objetivos que não tem um a ver com o outro?

Não é verdade.

O que acontece no Brasil hoje, é que há uma ligação direta entre as mais básicas reivindicações democráticas e a luta pelo socialismo. E essa ligação é muito clara.

A burguesia, os empresários, que são os que dominam o país, não podem garantir nenhuma democracia. Não podem garantir nenhum bem estar para a população. Eles têm uma política de liquidação dos direitos democráticos, de liquidação das condições de vida da população. E eles têm uma politica de entrega do país para o imperialismo.

Então, as reivindicações democráticas, as reivindicações mais sentidas na população, as reivindicações contra o imperialismo, levam a luta contra o capitalismo brasileiro e internacional.

Essa luta que está acontecendo aqui, essa, digamos assim, é o pano de fundo da luta das reivindicações democráticas.

Uma coisa está diretamente ligada a outra. Não existem dois caminhos. É um caminho só.

Por isso também que nos não podemos acreditar, não faz sentido acreditar, que se você se apoiar nessas instituições, dominadas por essa burguesia antidemocrática, anti-povo, anti-país, você vai conseguir progredir, jogando pelas regras que eles estabeleceram para o jogo.

Não vai acontecer. A luta é contra eles.

Por isso, essa politica de aproximação do PSDB, a politica aliança com os neoliberais contra os ultra-neoliberais, aliança com os coxinhas “não sei o que” contra a extrema-direita coxinha, é tudo uma fantasia.

Eles são, na verdade, um bloco político e social, e que precisa ser derrotado. Eles é que precisam ser derrotados. Esse que é o sentido estratégico da luta.

No final das contas, embora nós apresentemos uma série de reivindicações, que permitem ao movimento avançar, o desenlace final dessa luta, que nos estamos travando, só poderá vir através de um governo dos próprios trabalhadores. Sem a burguesia.

Agora, nós não podemos propor palavras de ordem que não estejam adequadas ao desenvolvimento da luta. As pessoas…

Isso aqui é uma ideia que nós temos, porque nós somos, digamos assim “revolucionários profissionais”, “teóricos” e tudo mais. Mas as pessoas têm que chegar a essa mesma conclusão nossa, se elas tiverem que chegar a essa conclusão, logicamente, pela sua própria experiência política.

Nesse momento, muita gente quer a liberdade do Lula. Acredita que, se o Lula for liberado, vai haver eleições, pa pa pa… e tudo vai se resolver.

Bom, nós não podemos passar por cima da experiência que as pessoas tem. Nós temos que acompanhar essa experiência, procurando esclarecer o que está em jogo nessa experiência. Nós não podemos saltar por cima da experiência do povo. Isso é difícil.

Nós podemos saltar por cima de muita coisa na política, mas saltar por cima da consciência das pessoas, é impossível.

Então, o que eu queria ressaltar aqui  é que, entre a luta por uma reivindicação democrática básica e a luta pelo socialismo, não há nenhuma contradição.

A única diferença é que uma, é um estágio avançado do caminho, da estrada, e outra, é uma parte inicial dessa estrada. Mas é a mesma estrada.

Uma coisa vai levando a outra, por que, as pessoas vão ser obrigadas a tirar a conclusão de que, sem uma dura luta contra a burguesia de conjunto no Brasil, não dá pra defender nenhum direito democrático, não dá pra conquistar nada para melhorar as condições de vida do povo, não dá pra combater o imperialismo, então, logicamente, vai chegar a essa conclusão, e essa conclusão conduz, na minha opinião, na opinião do PCO, ao governo dos trabalhadores. Que é o objetivo pelo qual nós lutamos.

Só que isso tem que ser feito de um modo que a gente vá percorrer… Essa estrada, não dá pra você encontrar um atalho, não da pra você sair da estrada, o caminho mais curto é seguir a estrada, andando do começo até o fim, não tem jeito.

Então, é preciso muito sangue frio, muita paciência, para acompanhar a evolução real da consciência das pessoas.

E, se essa consciência avança, vai se formar uma força política que represente essa consciência, que seja a expressão dessa consciência, que é pelo que nós estamos lutando.

Momentos da Análise Política da Semana do dia 22 de junho de 2019, por Rui Costa Pimenta, que acontece ao vivo todos os sábados, às 11h30, na COTV, vídeo completo: https://youtu.be/_bpKYZWjifg

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