Morreu na data de hoje, 14 de Fevereiro, há 96 anos, Manuel Raimundo Querino, o escritor negro e abolicionista que marcou época por defender o valor da raça negra no Brasil.
Querino nasceu em 28 de julho de 1851, 37 anos antes da Lei Áurea. Seus pais foram vítimas de uma epidemia de cólera e como órfão aos 4 anos, foi adotado por um por um professor da Escola Normal de Salvador. Aos 17 anos foi recrutado pelo exército no Piauí e serviu como escrivão no batalhão do Rio de Janeiro durante a Guerra do Paraguai. Depois, se dedicou ao desenho e à pintura, estudando no Liceu de Artes e Ofícios e na Academia de Belas Artes, onde também trabalhou.
Formou-se em Desenho Geométrico e passou a lecionar no Liceu e no Colégio de Órfãos de São Joaquim. Produziu dois livros didáticos sobre desenho geométrico.
Atuou na política, como abolicionista e depois fundando o Partido Operário e a Liga Operária Baiana, travando no meio intelectual debates contra as idéias preconceituosas da ciência de então. A burguesia e a monarquia brasileira defendiam ideias eugenistas a partir da influência de cientistas europeus que tinham teorias abertamente racistas afirmando que o negro seria inferior devido a sua formação biológica. Assim, o Estado brasileiro (principalmente durante a República Velha) passou a estimular a vinda de imigrantes europeus para substituir a mão de obra negra. Havia na verdade o temor de que o Brasil se transformasse um novo Haiti, a partir de uma revolução negra.
Manifestações culturais como o Candomblé e a Capoeira eram, portanto, vistas como bárbaras e empecilhos da civilização. Nesse contexto, Querino defendeu que o “branqueamento” era desnecessário porque os africanos já tinham civilizado o Brasil, e que os negros eram capazes de realizar trabalhos sofisticados, ao contrário do que se pensava.

Nas palavras da historiadora Wlamyra Albuquerque: “Querino dava ênfase ao papel do africano como civilizador” (…) “Achava que não havia necessidade de imigrantes brancos, pois o Brasil já tinha sido civilizado pelos africanos. Dizia que o trabalhador brasileiro era muito mais capacitado do que o estrangeiro para enfrentar os desafios da sociedade brasileira”.
As ideias de Querino, assim como sua figura militante inspirou diversos intelectuais e escritores. Deste embate filosófico, inspirou Jorge Amado para criar sua personagem Pedro Archanjo, figura central do romance Tenda dos Milagres.