Ciro Gomes, que teve sua candidatura oficialmente lançada pelo PDT no dia 20, coleciona contradições. Um dos pontos mais frisados por ele em seus discursos megalômanos e cheios de oscilações entre pautas esquerdistas e acenos francos à direitista, é a valorização da economia nacional. Em meio aos muitos jargões de economista, gosta de dizer que fortalecer a indústria nacional é fundamental para o crescimento do país.
O que evita contar, entretanto, é que, em seu passado, Ciro foi responsável direto pela falência da única indústria automotiva 100% nacional da história. A marca de automóveis Gurgel Motores S/A, fundada no final dos anos 60 pelo engenheiro Amaral Gurgel, estabeleceu-se com relativo sucesso no mercado nacional durante aproximadamente 20. No início dos anos 90, com a eleição de Fernando Collor expressando o início de uma temporada de ataques neoliberais à economia brasileira, a Gurgel foi enfraquecida.
Medidas como a isenção do IPI e a liberação de importação de carros, estrangularam a marca, jovem em comparação às líderes multinacionais, fazendo-a perder muito em competitividade. O lançamento do FIAT Uno, concorrente direto com um dos modelos mais vendidos da Gurgel, foi viabilizado por essa política de desvalorização do produto nacional.
Buscando se restabelecer, a Gurgel lançou novos modelos e planejou a expansão de seu parque industrial. É aí que Ciro Gomes entra na história. A indústria tomou empréstimo com o Banespa e o BEC (Banco do Estado do Ceará), celebrando um compromisso de “apoio irrestrito” com Ciro (à época PSDB), o então governador do Ceará, e Fleury Filho, o governador paulista responsável pelo Massacre do Carandiru. A empresa já havia adquirido parte do maquinário para instalar-se no Ceará, quando foi pega de surpresa pelo rompimento do acordo – chancelado pelo governador Ciro – o que ocasionou em uma execução judicial e na consequente falência da Gurgel Motores S/A.
A família Gurgel garante que, caso o acordo tivesse sido cumprido, a marca teria superado a instabilidade provocada pelo governo Collor. Por isso, acertadamente, denuncia Ciro como um dos responsáveis pela falência e desmonte da empresa.
Em sua defesa, Ciro diz que o desfazimento do compromisso era inevitável, uma vez que a equipe que geria o BEC agia de forma estritamente técnica e não poderia ter levado a cabo o “acordo irrestrito”. É o mesmo nível de desculpa do homem que disse que sequestraria o presidente Lula e o levaria a uma embaixada, caso uma prisão ilegal fosse decretada. Agora – sobre Lula – Ciro afirma que não disse exatamente isso e que, em um eventual governo seu, sequer indultaria Lula para salvá-lo da injusta masmorra.
O candidato do PDT à presidência da república é a prova de há um enorme abismo entre as atitudes de um político e os discursos com os quais descreve a si mesmo. O governante que chama para si a responsabilidade de salvar um país, harmonizando “o setor que trabalha com o setor que produz” – como adora dizer – não foi capaz de, como governador, salvar da monopolizante garra do “livre mercado” a única indústria de carros genuinamente brasileira da história nacional.