O autor do clássico infantil “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, José Bento Monteiro Lobato teve sua morte em 4 de julho de 1948, aos 66 anos de idade, na cidade de São Paulo. Um dos escritores mais populares da nossa história, Monteiro Lobato, que tem suas obras agora em domínio público, atualmente está no banco dos réus de setores da esquerda pequeno-burguesa, que querem “prendê-lo” por racismo, mas como isto é impossível já que ele não está vivo, se contentaram com censurar seus escritos.
VIDA E OBRA
Escreveu, foi ativista, diretor e produtor brasileiro e um importante editor de livros inéditos, também autor de importantes traduções. Seguido a seu precursor Figueiredo Pimentel (“Contos da Carochinha”) da literatura infantil brasileira, ficou popularmente conhecido pelo conjunto educativo de sua obra de livros infantis, que constitui aproximadamente a metade da sua produção literária.
Contista, ensaísta e tradutor, Lobato nasceu na cidade de Taubaté, interior de São Paulo, no ano de 1882. Formado em Direito, atuou como promotor público até se tornar fazendeiro, após receber herança deixada pelo avô. Diante de um novo estilo de vida, Lobato passou a publicar seus primeiros contos em jornais e revistas, sendo que, posteriormente, reuniu uma série deles no livro Urupês, uma de suas obra-primas como escritor, que narra a rotina de caipiras do interior de São Paulo, apresentando ao público o personagem do ”Jeca-tatu”.
A outra metade, consistindo de contos (geralmente sobre temas brasileiros), artigos, críticas, crônicas, prefácios, cartas, livros sobre a importância do ferro (Ferro, 1931) e do petróleo (O Escândalo do Petróleo, 1936). Escreveu um único romance, O Presidente Negro, que não alcançou a mesma popularidade que suas obras para crianças, que entre as mais famosas destacam-se também Reinações de Narizinho (1931) e Caçadas de Pedrinho (1933).
PETRÓLEO E NACIONALISMO
Monteiro Lobato escrevia críticas ao governo de Getúlio Vargas, em forma de histórias infantis, tendo como mote a tímida exploração do petróleo. O escritor queria que Vargas realizasse mais perfurações de campos de petróleo, pois sabia do potencial benefício para o País. O livro infantil chamado “O Poço de Visconde” contém essa crítica.
No texto O Escândalo do Petróleo, de 1936, ele demonstra todo seu nacionalismo, posicionando-se totalmente favorável a exploração do petróleo no Brasil apenas por empresas brasileiras.
Do mesmo modo, matéria jornalística de Lobato chegou a ser censurada pelo governo varguista tendo em vista suas críticas ao governo. Foi um dos impulsionadores do movimento conhecido como “O Petróleo é Nosso”. Como defensor nacionalista e crítico explícito, Lobato chegou a ser preso por alguns anos devido à censura. Sua obra, entretanto, está livre para conhecimento do povo brasileiro e deve permanecer assim.
SEMANA DE 22, RACISMO E CENSURA
Lobato atacou com extrema violência a semana da Arte Moderna em 1922, posteriormente se juntou ao Modernismo. Tem uma trajetória confusa. Tornou-se nacionalista e inclusive ingressou no Partido Comunista no final de sua vida.
Não se deve considerar Monteiro Lobato um autor racista. Ele evidentemente teve uma posição racista, mas era uma posição puramente intelectual. Ele não participou de nenhum movimento racista ou qualquer coisa do tipo. É uma posição ruim, mas isso deve ser visto de acordo com a perspectiva da época.
Monteiro teve sim colocações racistas em determinado momento, mas também colocações contra o racismo. É importante levar isto em consideração, como o conto ”Negrinha” (1920), é um exemplo disso, que trata da questão.
DIREITA SEMPRE ATACOU MONTEIRO LOBATO
É preciso levar em conta que a direita brasileira sempre fez uma campanha muito dura contra Monteiro Lobato. Em geral contra as obras infantis, que são uma joia da literatura nacional. Não há dúvida nenhuma que as obras infantis são combatidas pela direita justamente porque, para ela, a formação das crianças tem que ser estritamente reacionária.
Mas Monteiro Lobato falava de tudo, tinha uma posição extremamente progressista nessas obras. Não dá pra dizer que Monteiro Lobato era ”comunismo para crianças”, como já foi dito para autores da direita. Antes fosse. Não chega a ser tudo isso, mas pode-se caracterizá-la como uma obra progressista, democrática, etc.
A extrema-direita e a direita tradicional sempre procuraram banir Lobato da vista das crianças. Essa mesma ambição foi adotada pelo movimento negro, que decidiu perseguir Monteiro Lobato como escritor racista. Mas o que eles apontam como racista na obra dele não tem nada a ver com racismo.
CULTURA É CULTURA
O passado da humanidade está cheio de loucuras – principalmente produzidas pelas igrejas cristãs, mas também por outras religiões. Em que os opressores se utilizaram da censura e da destruição do patrimônio cultural da humanidade, sob a justificativa de que não seria ”correto” permitir determinadas manifestações das quais eles não concordavam. Mas isto é pura arbitrariedade ditatorial, reacionária. Cultura é cultura.
Marquês de Sade escreveu as coisas mais escabrosas possíveis. Existe algum movimento para proibir este autor? Nunca ouvimos falar disso. Existem escritores que não são uma maioria, mas que foram fascistas, e que escreveram obras de determinada importância. Deve-se proibir esses autores também? Claro que não. Deve-se reivindicar o direito do povo de ler qualquer coisa.
No Brasil, um dos pioneiros do romancismo modernista foi Plínio Salgado, o criador do Integralismo. Deve-se proibi-lo? Deve-se queimar numa fogueira como a Inquisição fez? Não. A esquerda, infelizmente, vive num ambiente pequeno-burguês, onde a direita tem grande iniciativa ideológica. Isso faz com que a própria esquerda fique direitista. O caso de Monteiro Lobato prova isso.