De “Que Fazer? Questão Vital para o Proletariado Alemão”, 1932
No caso do perigo atual, a socialdemocracia conta, não com a “Frente de Ferro”, mas com a polícia prussiana. É contar com aquilo que não se tem.
O fato de que a polícia tenha sido originariamente recrutada em grande número entre os operários socialdemocratas não esclarece muita coisa. Mesmo aqui, a consciência é determinada pelo ambiente. O operário que se torna um policial a serviço do Estado capitalista é um policial burguês, não um operário. Nos últimos anos, esses policiais lutaram muito mais contra os operários revolucionários do que contra os estudantes nazistas. Tal treino não deixa de produzir os seus efeitos. E acima de tudo: cada policial sabe que o pensamento do governo pode mudar, mas a polícia continua.
No seu número de ano novo, o órgão teórico da socialdemocracia, Das Freie Wort, (A palavra livre) – Que periódico infeliz! –, publica um artigo no qual a política da “tolerância” é exposta no seu mais alto sentido. Segundo ele, Hitler parece que nunca poderá chegar ao poder contra a polícia e o Reichswehr. Assim, de acordo com a Constituição, o Reichswehr está sob o comando do Presidente da República. Assim o fascismo, prossegue, não é perigoso enquanto um Presidente fiel à Constituição continuar à frente do governo. O regime de Bruening tem de ser apoiado até às eleições presidenciais para que um Presidente Constitucional possa ser eleito, através de uma aliança com a burguesia parlamentar, e então o caminho de Hitler para o poder estará bloqueado por mais sete anos […]
Os políticos do reformismo, esses habilidosos manipuladores, especialistas em intrigas e carreirismo, versados em manobras parlamentares e ministeriais, quando colocados fora da sua habitual esfera pelo curso dos acontecimentos, quando têm de se defrontar com fatos importantes, revelam-se ser – não há meio termo para isso – verdadeiros imbecis.
Confiar num presidente é confiar “no governo”! Face ao iminente choque entre o proletariado e a pequena burguesia fascista – dois campos que conjuntamente constituem a esmagadora maioria da nação alemã – esses “marxistas” do Vorwaerts (Avante) – o principal jornal socialdemocrata – gritam no sereno por socorro: “Socorro! Governo, intervenha!”