Nas últimas semanas de 2021, toda a classe trabalhadora vem assistindo a uma dessas grandes negociatas envolvendo o único candidato à presidência que realmente possui o seu apoio: o ex-presidente Lula. O petista vem sendo pressionado pela direita e pelos setores mais direitistas da esquerda a aceitar como candidato à vice-presidência o agora ex-tucano e golpista, Geraldo Alckmin.
Ex-governador paulista pelo PSDB, Alckmin foi um dos principais articuladores do golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff em 2016, tendo sido também responsável direto por 12 anos de dura repressão aos servidores públicos, estudantes e trabalhadores. Sob sua gestão, toda e qualquer reivindicação democrática mínima sempre fora tratada com uma brutalidade inacreditável através da PM.
Protestos contra cortes de salário, más condições da educação no Estado, aumento dos custos de vida como dos transportes. Nessa conta, cabe lembrar também a violência desmedida contra estudantes secundaristas a partir de 2015, à época lutando contra o fechamento de escolas públicas.
Política de pirataria
A “folha corrida” de Alckmin é extensa, assim como de qualquer político do PSDB que chega ao comando do poder executivo, mas no seu caso há um agravante. O mais rico Estado do País, com a maior concentração de operários brasileiros, São Paulo gera uma quantidade de riqueza superior a grande maioria dos países do mundo. Contudo, o que vimos de resultado de sua política à frente desse colosso foi um aumento expressivo da pobreza, de moradores de rua, de desempregados, da destruição de diversos setores fundamentais da economia, tais como a indústria pesada.
Em serviços públicos como saúde e educação, assim como na infraestrutura de água e energia, os racionamentos tornaram-se constantes. Por outro lado, se ampliou o gasto público com as polícias, aumentando dramaticamente a quantidade de mortes em ações policiais, o aumento nas privatizações e entrega do patrimônio público, o aumento dos custos de vida e piora dessas condições para a população pobre.
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Com este “belo cenário”, não é possível vislumbrar nenhum ponto positivo a possa ser considerado pelos “gênios” estrategistas da esquerda para justificar Alckmin como vice de Lula, pelo contrário. Colocar um político burguês, historicamente comprometido com os interesses da burguesia nacional e internacional, é uma das mensagens mais claras de capitulação, que qualquer trabalhador enxerga há quilômetros de distância, o que leva questionamentos como: “pra quê Lula precisa dele? O que tem a ver Lula com Alckmin? O PT não aprendeu com Michel Temer? O PT vai fazer esse tipo de aliança novamente pra quê?”
São perguntas feitas por amplos setores da classe operária e que deixam muito claro o ânimo da população com a entrada de um golpista na candidatura do Lula. Destacamos a pergunta final e a lembrança ao golpista do MDB, Michel Temer. Com a experiência golpista ainda sendo vivenciada pela classe trabalhadora, é preciso deixar claro: trata-se de um golpe contra a candidatura de Lula.
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A presença de Alckmin na chapa de Lula é uma ação pensada e bancada em primeiro lugar pela burguesia internacional (imperialista), com o propósito de introduzir a via golpista na candidatura do Lula.
O alerta que vem do Chile
A recente eleição de Gabriel Boric tem vários elementos que levam a um aprendizado para as lutas populares no país contra o golpismo, mas no específico caso eleitoral, destacamos que Boric é um elemento praticamente escolhido pela burguesia nacional e internacional para impedir o completo desmoronamento do regime político chileno.
As gigantescas mobilizações populares que tomaram as ruas do Chile em 2019, cuja reivindicação principal era o fim do governo de Sebastian Piñera, um vassalo do imperialismo, e de sua política neoliberal, acabaram por ser abafadas e controladas pelas forças políticas de direita, e pela esquerda completamente submissa a uma política orientada a partir de Washington (EUA), agora cada vez mais clara.
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A eleição de Boric, que está sendo aclamada pela imprensa burguesa local e internacional, tem como objetivo arrefecer a insatisfação popular com as décadas de destruição e espoliação da política neoliberal no país, mas mantendo o controle do imperialismo sobre regime político em frangalhos.
Desde o início da campanha, Boric deixou claro que não pretende atuar contra os interesses da burguesia dominante, não pretende atender às reivindicações de povos massacrados no interior do país, acossados por mineradoras e agroindústrias, e sequer pretende conceder liberdade aos mais de 1 mil presos políticos. Sua política exterior já apresenta antagonismos gratuitos aos governos nacionalistas de Cuba, Venezuela e Nicarágua. Finalmente, os nós da constituição pinochetista serão mantidos, preservando os pilares da política neoliberal, contraposta apenas por grandes doses de demagogia identitária com as mulheres, com os LGBT, com os índios etc.
O sinal claro que recebemos com o apoio da burguesia nacional chilena e a burguesia imperialista são que candidatos nacionalistas, que busquem atender os interesses da classe trabalhadora, não serão aceitos no subcontinente de forma alguma. Tampouco terão escrúpulos quanto aos métodos utilizados, como no caso do Chile, em que uma gigantesca mobilização popular e seus reais líderes foram excluídos da corrida eleitoral. Todas as manobras à disposição serão acionadas, inclusive compra de políticos da esquerda, infiltração de elementos direitistas na esquerda, além das vias tradicionais como a mudança de legislação eleitoral, repressão Estatal, exclusão de candidaturas, da participação popular e em último caso, golpes militares.
Um golpe se formando
A grande pressão que estamos vendo ser feita pela burguesia para empurrar Alckmin para dentro da candidatura de Lula, já faz parte do jogo pesado e sujo que será utilizado em larga escala para impedir que Lula se torne presidente novamente e, caso não consigam impedir a sua vitória, forme um governo que atenda aos interesses dos grandes capitalistas internacionais. Além disso, a forma como estão fazendo essa operação, excluindo qualquer participação popular no processo – como impedir que haja uma votação das bases do PT sobre Alckmin e as articulações com a direita – se configuram um verdadeiro golpe contra população, haja vista que Lula não é qualquer candidato. É a única liderança política nacional realmente popular, com autoridade junto à população (leia-se classe trabalhadora majoritariamente).
Outro aspecto que devemos citar é a política oportunista e abertamente sabotadoras da candidatura do ex-presidente Lula, tocadas praticamente por toda a esquerda. Ao mesmo tempo que toda a direita nacional e a esquerda pequeno-burguesa entram de cabeça na política eleitoral, ao invés de fazerem o óbvio para derrotar a direita e as ameaças golpistas – apoiar integralmente a candidatura de Lula e começar o trabalho já – impõem obstáculos a um apoio real a Lula, isto quando não pressionam por propostas sem outra serventia além de enfraquecer a candidatura.
Tanto PCdoB, como PSOL, PCB e o próprio PT vêm discutindo os arranjos locais para candidaturas a governos estaduais, para senadores e deputados, deixando claro que combater a direita pela via mais óbvia e forte que a classe trabalhadora possui – Lula presidente – é uma política secundária diante de interesses mesquinhos, que pouco importam para a população pobre. Finalmente, eleger um deputado, senador ou governador enquanto a direita serviçal do imperialismo estiver na presidência não vai significar nada além de mais quatro anos de um governo neoliberal e de ataques à classe trabalhadora.
A luta para que cheguemos a um futuro governo Lula já está em curso e inevitavelmente, exigirá uma grande participação popular. O regime golpista que se formou desde o golpe de 2016 não vai ser desmontado por manobras, mas somente poderá ser abalado e desmontado através de uma intensa pressão popular nas ruas, que irá inclusive desmontar todo o aparato de manipulação eleitoral que está se formando para impedir a eleição de Lula.
Essa inevitabilidade da ação popular, pode não ser entendida pela esquerda parlamentar, pelos setores burocráticos que estão acostumados à política de gabinete, à política de articulações palacianas, mas é plenamente compreendida e professada por trabalhadores nas ruas, que não enxergam alternativa nenhuma no regime político atual completamente em ruínas e desacreditado. Através de Lula a população vê a única alternativa, a única possibilidade de o Estado lhes favorecer minimamente.
Por isso, não há o que se “inventar” é preciso utilizar a candidatura de Lula para permitir as massas operárias atuar novamente no regime político, desmontando o esquema golpista.