A esquerda brasileira desde a ascensão de Bolsonaro ao governo se tornou cada vez mais repressiva. A disputa que existe entre dois setores da burguesia, sendo o de Bolsonaro o setor mais fraco, não é compreendido desta forma. A análise é a da luta entre o fascismo e a democracia e nesse sentido a esquerda estaria no campo democrático ao lado do PSDB, STF, da polícia e dos presídios, uma ideia completamente absurda mas que tomou conta de grande parte da esquerda. É o caso do Afronte! que publicou no sítio à esquerda online o texto: “Não esquecer para não se repetir: punição aos crimes do bolsonarismo!”
O Afronte! lançou um manifesto que já tem como premissa básica uma ideia sem sentido a de “responsabilizar o ex-presidente Bolsonaro e o movimento bolsonarista por todos crimes cometidos contra a democracia”. A ideia de crimes contra a democracia em si já é vaga, mas com uma explicação pode fazer algum sentido, contudo responsabilizar o movimento bolsonarista por crimes já é algo impossível. O movimento bolsonarista são milhões de pessoas em todo o Brasil ou dependendo da definição de centenas de milhares de manifestantes que não estão em uma organização. A tentativa de criminalização desse movimento abre margem para uma ditadura total.
O texto segue apresentando uma incompreensão sobre o tal movimento bolsonarista: “Seguido da derrota eleitoral, o movimento bolsonarista, financiado pelos grandes empresários ruralistas e do agronegócio, tomou as ruas do país com atos golpistas e trancamento de rodovias.” Essa afirmação é falsa, o bolsonarismo foi apoiado durante as eleições, os empresários conseguiram igualar o valor de campanha de Bolsonaro com Lula, doando mais de 100 milhões de reais para o, naquele momento, presidente. As manifestações que aconteceram após a derrota de Bolsonaro foram em grande parte independentes.
Os grandes empresários não as apoiaram, os governos bolsonaristas não apoiaram e o próprio Bolsonaro não apoiou. Elas se restringiram a apoio de setores totalmente secundários da burguesia principalmente fora do sudeste e do sul. Portanto, esse movimento bolsonarista é na realidade um movimento de base que envolve milhões de pessoas, em grande parte trabalhadores, que devem não ser reprimidos mas sim conquistados para as posições da esquerda. Os trabalhadores bolsonaristas e a própria pequena burguesia não tem responsabilidade nenhuma pela destruição do Brasil.
E para além disso os responsáveis, que são a burguesia e seus partidos, não se restringem ao bolsonarismo. Todas as piores medidas do governo Bolsonaro foram apoiadas pelo PSDB, por exemplo, inclusive as mortes durante o Covid-19 que tiveram epicentro em São Paulo, um estado governado pelo PSDB. A chamada 3ª via atualmente é na verdade responsável pela própria eleição de Bolsonaro pois são aqueles que derrubaram a presidenta Dilma e prenderam o ex-presidente Lula. Essa direita autoproclamada democrática é muito mais responsável por todos os males do Brasil do que o próprio Bolsonaro.
Por isso essa classificação de Bolsonaro e movimento bolsonarista não faz o mínimo sentido. Ela desvia a atenção da esquerda de seus grandes inimigos. Outro trecho do texto deixa esse erro ainda mais claro: “Vivemos os últimos quatro anos em um estado de completa tensão social. Foram levadas às últimas consequências a redução dos direitos da juventude e dos trabalhadores, o aumento da desigualdade social, o genocídio da população negra, a destruição do meio ambiente e o desinvestimento dos serviços públicos, como os cortes bilionários nas universidades federais.” Apesar de estar certo no geral o manifesto ignora que não foram 4 mas sim 6 anos, ou seja, desconsidera o governo Temer e o golpe contra a presidenta Dilma, algo esperado em de uma organização ligada a Boulos.
Assim o texto segue com sua política repressiva: “É tarefa da esquerda e dos movimentos sociais que lutaram pela manutenção da democracia em nosso país encampar uma forte campanha pela responsabilização e punição dos crimes cometidos por Bolsonaro e seus apoiadores.” A esquerda primeiramente deve lutar pela defesa dos interesses dos trabalhadores, pelas suas principais reivindicações e pela defesa dos interesses do Brasil contra o imperialismo. Defender a punição é a política da direita, isto é, de quem de fato controla o aparato de repressão, quem escolhe de fato quem será punido ou não. Fortalecer esse aparato é uma política contra os trabalhadores, que são a sua principal vítima.
O texto afirma que “O Brasil, no entanto, tem um histórico de impunidade e anistia nos crimes contra a democracia e a humanidade.” A ideia de crimes contra a democracia e contra a humanidade é uma política da direita, contudo de fato não houve uma punição para os criminosos do regime militar. Bem como não houve punição para FHC, a Lava Jato e todo o PSDB os maiores criminosos que já pisaram no Brasil, cometeram crimes de lesa pátria, destruíram a Vale, a Petrobrás, a Embratel, matavam tantas crianças de fome quando morriam pessoas de Covid em 2021. Mas o texto apenas fala de punição aos bolsonaristas, que é exatamente o que diz a Folha de São Paulo, antiga patroa de Boulos, e a Globo.
O texto mais a frente também descreve quais seriam esses crimes: “Bolsonaro e o Bolsonarismo precisam responder por todos os crimes, que vão desde os ataques à democracia, às fake news, aos crimes contra humanidade e a saúde pública, e tantos outros que devem ser investigados.” Não é citada a privatização da Eletrobrás, a reforma da previdência, privatização das refinarias e do pré-sal, a entrega da base de Alcântara para os EUA e o arrocho salarial. Os crimes são aqueles que dizem os jornais da imprensa burguesa, as “fake news” e os atentados a democracia.
O Afronte! então coloca como crucial a “luta por justiça, pela punição de todos os golpistas e financiadores do golpismo” mas sem em momento algum citar que os maiores golpistas de todos são aqueles de 2016, incluindo o próprio Boulos. O Afronte! Como era de se esperar de uma organização ligada ao IREE e portanto a CIA coloca exatamente a mesma política que a imprensa burguesa. Agora ele aparenta ser uma esquerda anti-Bolsonaro, mas logo voltará a sua política tradicional de esquerda anti petista, ou seja, uma esquerda que servirá de base para o golpe contra o presidente Lula.
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