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Oscar: a festa de brancos em que só entra o negro conciliador e bem comportado

A cerimônia do Oscar que ocorreu no último domingo, dia 24, foi mais uma demonstração de que a política imperialista é atuante em todos os terrenos e o cinema é um deles, por mais que alguns incautos ou “neutros” possam não achar ou desprezar o tema.

Essa política ou politicagem pode ser observada desde as indicações ao prêmio, que ocorrem um mês antes da entrega do prêmio. Indicados como os filmes “Bohemian Rhapsody” e “Pantera Negra” e a cantora e aspirante a atriz Lady Gaga, não estão entre os possíveis ganhadores por uma simples questão de talento ou valor artístico, mas pelo simples fato de que são um produto que vende e que por isso atraem o público para uma premiação que há muito tem ganhado o desprezo de muitas pessoas. Essa podemos dizer é a politicagem rasteira, mais miúda.

Mas há a política mais graúda e voltada a interesses políticos bem definidos. Há alguns anos o Oscar, ou seja, a Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood foi acusada de racismo por não ter indicado negros em duas edições seguidas. O resultado foram protestos da comunidade artística negra que repercutiram mundialmente. Para amenizar um fato consumado, o Oscar é uma festa de brancos e para brancos, vide que a primeira atriz negra a ganhar um Oscar na categoria principal aconteceu somente em 2002 e até hoje o feito se mantém na categoria principal, mas outras atrizes negras ganharam o Oscar na categoria secundária, de coadjuvante. Já no caso dos atores negros, o primeiro a ser premiado foi Sidney Poitier em 1964, 35 anos depois do primeiro evento. E que o segundo ator negro a ganhar na categoria principal aconteceu 38 anos depois, Denzel Washington. Diretores negros e técnicos de outras áreas então nem aparecem em lista nenhuma.

Para se contrapor a este racismo gritante, este ano pelo menos 3 filmes em que negros tinham destaque na produção foram indicados. “Pantera Negra”, representando diretamente a indústria, “Infiltrado na Klan”, do diretor, sempre polêmico Spike Lee, e “Green Book – O Guia”, filme independente em que o tema do racismo também aparece.

Outros filmes indicados, como “Roma”, da produtora de streamming Netflix, e “Vice”, sobre como o ex-vice presidente republicano, Dick Cheney, conspirou para invadir o Iraque e roubar o petróleo do país do Oriente médio, também podem ser analisados do ponto de vista político. Um representa um campanha lateral contra Trump, já que o filme é uma produção mexicana, mas que também carrega a marca de uma produtora que rivaliza com Hollywood, a Netflix. Ganhou três prêmios, mas não alçou o mais desejado, o prêmio de melhor filme. Eliminado o problema “Netflix”, a segunda jogada foi se apresentar como a interessada na “representatividade” dos negros.   

A vitória de “Green Book – O Guia” é um contraponto direto à polêmica de outro filme bem cotado, “Infiltrado na Klan”. Enquanto o filme de Spike Lee conta uma história real da luta contra a Klu Klux Klan na década de 1970 nos EUA e fazendo uma conexão direta com o crescimento da extrema-direita nos dias de hoje, “Green Book” também embarca numa história real, para mostrar como brancos e negros podem se entender de maneira pacífica, por meio do diálogo e da troca de conhecimentos e experiências individuais retratados entre um motorista branco racista e um pianista negro intelectual que não se encaixa no padrão de negro norte-americano. “Green Book” é o filme ideal para fazer a “média” com os negros de maneira a não incitar os ânimos e deixar tudo como está. O prêmio a “Green Book” ofusca os olhares aos outros filmes, tirando do radar do espectador de cinema assuntos espinhosos como os tratado no filme de Spike Lee. Que ganhou o prêmio de melhor roteiro de consolação. O Oscar optou pela conciliação.

A farsa não foi tão completa, pois o filme vencedor, abstraindo esta questão política, é um dos mais fracos entres os concorrentes. Não possui nenhum tipo de apuro técnico, de linguagem, de roteiro que justificasse o prêmio. Apenas conta com dois bons atores que mantém de maneira eficiente o interesse no filme. E só. Sua vitória evidenciou, mais uma vez, a politicagem por detrás da premiação que é apresentada como a mais importante do cinema. A decisão por “Green Book” não é uma visão torta da Academia para a questão do negro nos EUA. É uma política deliberada para evitar qualquer atrito, polêmica ou debate no mundo real.

O Oscar não passa de um representante da indústria e por isso vai prestigiar a indústria do cinema. Hollywood é uma máquina de propaganda imperialista e vai agir como tal. No passado esse tipo de manobra foi feito sem muita “firula” ou demagogia, mas depois de décadas de exclusão, de seleções puramente baseadas em interesse econômicos e também políticos o Oscar faz uma encenação para dizer que é inclusiva, a favor das mulheres, dos negros e outras minorias. Que é progressista, moderna. Falso. É o prêmio dos grandes magnatas do cinema, da indústria, do filme “blockbuster”, da estrela do momento que leva milhões ao cinema, ou seja, de quem dá lucro, vende, arrecada, e não dos filmes de arte, de contestação política etc. É um prêmio de brancos para brancos. O negro até então excluído agora está sendo convidado para a festa, mas para desfrutar dela vai precisar se comportar muito bem.

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