Desde o último domingo (19), o jornal golpista Folha de S. Paulo instituiu um novo Conselho Editorial, cuja marca é a diversidade dos novos participantes, além de neoliberais, jornalistas venais e capitalistas demagogos, o Conselho conta agora com a presença de militantes identitários negros: a filósofa Sueli Carneiro e Thiago de Souza Amparo, advogado e professor brasileiro. O Conselho Editorial tem por atribuição criticar o jornal, trazer novas ideias e discutir novas tendências, preocupou-se com a diversidade.
Este jornal, um dos principais porta-vozes da burguesia brasileira e internacional, esteve sempre na contramão dos interesses populares e democráticos e é reconhecidamente um jornal que expressa os interesses de um importante setor, talvez o mais poderoso, da burguesia nacional e do imperialismo. No passado o periódico apoiou e participou ativamente da ditadura militar de 1964, no presente, foi um dos principais articuladores do golpe de Estado contra a presidenta Dilma Rousseff, da prisão do ex-presidente Lula e da eleição fraudulenta de Jair Bolsonaro.
Teria esse devoto servidor dos capitalistas e opressões se rendido às catilinárias identitárias e com peso na consciência por seus pecados anteriores, passando a ser um fiel servidor da causa da diversidade, um veículo por meio do qual se expressa os interesses de todos os segmentos sociais? Ou seria somente mais um truque demagógico para enganar os incautos e tentar angariar alguma credibilidade junto à pequena-burguesia esquerdista, cooptando identitários dispostos a tal tarefa?
A Folha de S. Paulo sempre se caracterizou, diante das circunstâncias, por mudanças estéticas, para manter sempre os princípios intactos, que são: os interesses da grande burguesia e do imperialismo. Assim com a mobilização popular e a consequente queda da ditadura militar, que o jornal sempre apoiou, fizeram o país pender para a esquerda e diante nova circunstância a Folha passou a adotar novos ares, um tom liberal, supostamente democrático, e até mesmo criticar a ditadura passada que ela apoiou e participou.
Ainda muitas outras metamorfoses se deram nesse monopólio, no entanto, uma coisa sempre se manteve perene: a defesa dos interesses da grande burguesia contra o conjunto dos oprimidos do País. Durante a campanha colérica contra o governo do PT, que resultou no golpe de 2016, a Folha deu espaço até mesmo para setores de esquerda, como Guilherme Boulos, que à época cumpria o papel de atacar o governo nas páginas da Folha pela esquerda, a Folha justificou o espaço dado a esquerda pelo seu caráter “democrático”, tão logo o governo caiu e o espaço se fechou para ser reaberto tempos depois em outras circunstâncias.
Assim a nova manobra da Folha de se vincular ao identitarismo e se apresentar como empresa de ideologia identitária fala mais sobre o identitarismo em si que sobre a Folha, que já utilizou todo tipo de máscara para dissimular suas posições a serviço dos grandes capitalistas e contra o povo pobre, negro e trabalhador do país.
Como se pode ver, o identitarismo atua como um acessório que a burguesia usa para mistificar sua política. Assim como já se utilizaram da ideologia fascista, da ideologia liberal-democrática, utilizam-se agora da ideologia identitária a serviço de seus interesses.
A situação política nacional, inclusive, o exige. A direita tradicional, da qual a Folha é representante, procura levantar a terceira via, isto é, uma solução eleitoral genuinamente neoliberal e fiel ao bloco da burguesia tradicional. Tem, no entanto, que confrontar-se com a extrema-direita, Bolsonaro, e com a esquerda, que se agrupa em torno do ex-presidente Lula. A direita tradicional não tem absolutamente base alguma, a adoção do identitarismo tem a ver exatamente com isso, é uma tentativa, não tendo nada a oferecer à esquerda de concreto, de convencer a esquerda a apoiar a direita tradicional contra a extrema-direita, de tornar essa escolha para a esquerda mais “fácil”.
Não é à toa que o candidato mais cotado da direita tradicional e da Folha seja justamente João Doria (PSDB), o IdentiDoria, político que saiu da extrema-direita para o identitarismo, uma vez que não pode disputar a extrema-direita com Bolsonaro. Essa é a tarefa que os identitários, que é uma ideologia que insta os oprimidos a trocar a luta pelos seus interesses materiais por uma luta contra a cultura do seu próprio país, e ensina que todo aquele que é contra a cultura nacional é aliado, tem de desempenhar, mostrar para a esquerda que a direita pode sim, ser uma boa opção, que tem gente séria, que se preocupa com a diversidade como a Folha de São Paulo.
Há quem se sinta aliviado por considerar a manobra inviável com a candidatura de Lula, que impedirá a migração de votos. A burguesia, no entanto, joga com muitas cartas e tem muitos recursos, se consideram a manobra viável é preciso se precaver desde já.
Em relação aos identitários e ao identitarismo como ideologia, é preciso denunciá-los, sua ideologia está a serviço dos opressores, seus líderes estão sendo usados ou se deixam usar pelos piores opressores.