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COTV Entrevista

Morador do Jacarezinho relata como foi chacina

O militante do PT e do Movimento Negro Unificado, Rodrigo Mendonça, foi o convidado do último COTV Entrevista. Ele abordou a vida no Jacarezinho e a chacina da polícia covarde

O programa COTV Entrevista vai ao ar toda segunda-feira, das 19h às 20:30h. Ele é apresentado por Francisco Muniz e procura sempre trazer convidados para discutir temas políticos ou culturais relevantes no momento atual. Trata-se de uma atração já tradicional na Causa Operária TV, que faz a importante ponte entre os companheiros do PCO e outros grupos da esquerda, que podem usar esse espaço para também expressarem sua política. 

Na edição desta semana, o entrevistado foi Rodrigo Mendonça, um militante do PT e do Movimento Negro Unificado, de morador do Jacarezinho. A entrevista tratou a respeito do trabalho que o companheiro leva adiante na favela, além de diversos temas relativos à vida na comunidade em questão e da denúncia da chacina ali realizada pela Polícia Civil na quinta-feira passada (6). 

O companheiro expressou a revolta do morador de favela, oriundo da classe operária, que se vê ameaçado de vida pelo aparato repressivo do Estado. Ele também relata como o Jacarezinho tem sido atingido pela pandemia e as outras mazelas sociais provenientes da crise econômica e dos ataques dos sucessivos governos golpistas que vêm castigando a população desde 2016. 

Veja abaixo a transcrição de alguns dos trechos mais importantes do programa:

Como que costuma ser a abordagem da Polícia no bairro?

A abordagem da polícia aqui pela região começou com a UPP, o que deveria ser um projeto de polícia pacificadora, que foi um desastre, foi um atraso. Ela entrou aqui na comunidade, ficou um tempo e parece que resolveram o espaço aí na favela de forma criminosa. Começaram a extorquir moradores, cortar os cabos de internet, de televisão pela favela. Além de oprimir, “esculachar”, bater em moradores, cometer várias arbitrariedades, injustiça, abuso de autoridade de todos os tipos, enfim. Ficamos sete anos com a UPP aqui dentro.

A única coisa que entrou aqui mesmo foi a UPP por esses sete anos. Não entraram projetos na área de saúde, de educação, de esporte ou lazer. No fim das contas, serviu mesmo para manter o controle da população e opressão dentro da favela. Até havia abordagens como essa operação que ocorreu na última quinta, mas não costumavam ser tão violentos.

A violência desta última operação veio como uma surpresa para muita gente ali?

Chega a surpreender um pouco porque, veja bem, estamos numa pandemia. O Estado não entrou aqui com projetos para prevenir a disseminação do coronavírus. Não vieram passar produtos nos becos, nas vielas, não vieram orientar os moradores, não deu assistência à comunidade, nenhuma orientação. Essas coisas acabaram ficando sob a nossa responsabilidade, dos movimentos sociais de base. Além disso, o impacto econômico dessa pandemia tem sido muito negativo e o desemprego tem sido muito alto. Aquele auxílio emergencial de R$600 já era pouco e agora esse de R$150 é menor ainda.

E como a pandemia tem atingido a população do Jacarezinho?

A pandemia matou muitas pessoas aqui e continua matando até hoje. Eu tenho a conta de mais ou menos 60 pessoas. Só aqui onde eu moro, no espaço de 100 metros quadrados, eu tenho conhecimento de 15 moradores que morreram. Destes, foram dois primos e um tio meu. Fora os conhecidos, que conviveram aqui conosco, foram pegando essa doença e morrendo, o que é muito triste. E não é só de Covid que as pessoas estão morrendo na favela aqui, tem gente ainda morrendo de tuberculose. Só no ano passado foram 5 mortes de tuberculose. É uma doença que vem matando gente com média de idade de 50 anos.

A pandemia vem também com o desemprego porque o governo atual, ao invés de propôr um lockdown, salvar os empregos, deixou tudo como está, o que matou muita gente e vem matando ainda.

Uma pergunta vinda da internet: “Companheiro Rodrigo, para o MNU, a população do Jacarezinho gostaria que não aparecesse mais a Polícia dentro da comunidade?”

Depois desse incidente… Nós não já gostávamos deles, se acham seres superiores, não têm nenhuma ética. Salvo alguns, que só começaram a agir de forma correta depois que a própria comunidade resolveu expulsá-los daqui. Esses caras estudam sociologia, direito, filosofia, várias coisas, e quando chegam aqui só praticam a maldade. Arrombam tua casa, te tratam como cidadão de segunda categoria. Para a Polícia do Estado do Rio de Janeiro, todo favelado é suspeito de ser um marginal. 

Aqui, eles entraram para matar, não tinham a intenção de prender ninguém. Depois que morreu o primeiro preso, eles voltaram com sentimento de vingança, não queriam levar ninguém para a delegacia não.

Aqui na favela não tem que entrar Polícia não. Salvo para prestar socorro, mas eles precisam aprender a respeitar as pessoas, não podem fazer o que fizeram. A Polícia Civil é uma polícia de classe média. Para entrar na Civil, você tem que ter curso superior, mas aparentemente esse pessoal compra o diploma pela internet ou coisa assim porque não é possível tratar morador de favela da forma que eles trataram, mataram brasileiros, jovem que podiam estar trabalhando, contribuindo para a sociedade. (…)

Como que você ficou sabendo do que ocorreu no Jacarezinho, você chegou a presenciar?

Bom, eu fiquei sabendo porque fui acordado com um helicóptero sobrevoando a minha casa. O vento na janela derrubou minhas bandeiras, minhas coisas, então eu liguei a televisão e fiquei acompanhando ao vivo a operação.

Aí, eu tinha que trabalhar e fiquei naquele dilema. Se eu fico aqui em casa, eles podem invadir aqui e me matar, mas se eu sair para trabalhar, eu posso tomar um tiro na rua. Então, eu preferi sair e correr esse risco porque, se eu tomo um tiro na rua, pelo menos as pessoas poderiam ver e me dar algum tipo de assistência. Eu moro na parte alta do morro, a barbárie ocorreu na parte intermediária e na parte baixa. Então, eu me direcionei ao trabalho, e já estando lá, fiquei sabendo que um policial morreu. E aí eles voltaram e fizeram a chacina. Foi covardia o que fizeram com os moradores do Jacarezinho, independente do que aquelas pessoas tinham feito ali. As pessoas já tinham se entregado, o trabalho desses policiais era simplesmente pegar essas pessoas e levar para o delegado, acaba ali. Mas não foi essa a intenção deles aqui (…)

Esses foram apenas alguns destaques da entrevista com Rodrigo Mendonça, caso queira acompanhar toda a discussão, veja o programa no link abaixo:

Rodrigo Mendonça fala sobre a chacina no Jacarezinho - COTV Entrevista nº 62 - 10/05/21

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